Crítica: Freaks Out

"FREAKS OUT" - 2022

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Tenho que admitir que o universo mágico do circo me fascina e um filme que se inicia com uma cena tão belamente construída sem nenhum diálogo, apresentando grande parte dos personagens e que termina com uma reviravolta surpreendente consegue transportar o espectador do céu para o inferno em poucos minutos. 

Na história temos como personagens principais figuras excêntricas do mundo circense, os chamados “freaks”. O líder da trupe é Israel (Giorgio Tirabassi), um judeu que gerencia o circo e orquestra a trilha sonora do espetáculo. O palhaço anão Mário (Giancarlo Martini) que além de ter o inusitado poder atrair metais (como um grande imã), apresenta um dote considerável. Fulvio (Claudio Santamaria) é um lobisomem galã que tem o corpo todo recoberto com pelos. Cencio (Pietro Castellitto) um albino que tem o estranho poder de controlar os insetos ao seu redor. Além da bela e inocente Matilde (Aurora Giovinazzo) uma garota traumatizada que tem o poder de gerar e transmitir energia pelo toque de sua pele.

A história se desenrola nos arredores de Roma durante o final da segunda Grande Guerra, após um incidente bélico a trupe fica ao relento. Enquanto Israel planeja adquirir passaportes para conseguirem fugir do país e ir para o novo continente, outros ficam receosos de chegarem a um novo país sem a segurança do ambiente do circo e se tornarem apenas aberrações rejeitadas pelos habitantes locais.

Israel e Matilde conseguem convencer o grupo de investirem suas economias na nova empreitada, mas não contam com a prisão de Israel e seu posterior envio para um campo de concentração. Matilde então se separa do restante do grupo e sai em busca de seu pai substituto, enquanto os outros buscam refúgio no Grande Circo Nazista, comandado por Franz (Franz Rogowski), um pianista com polidactilia (seis dedos em cada mão) rechaçado pelo exército alemão, que tem o poder da clarividência. Ele acredita que Hitler está destinado a perder a guerra e se suicidar, tendo como última esperança encontrar um quarteto com superpoderes que possa levar o Terceiro Reich à vitória.

Alguns críticos destruíram o filme alegando não existir mais espaço na sociedade atual para filmes que se utilizam da deformidade ou inconformidade de determinados indivíduos para criar narrativas que abordam superficialmente essas temáticas. No entanto, o filme tem a leveza e a coragem de introduzir esses personagens como improváveis super-heróis, além de criar um verdadeiro exército de resistência formado por aleijados e amputados da guerra. 

O filme não tem a intenção e nem a ambição de tecer um crítica psicossocial sobre como a sociedade deve ou não re-integrar esses indivíduos no mercado de trabalho. O diretor/ criador cria uma fábula que se utiliza da maravilhosa atmosfera circense para romancear narrativas de pessoas que nasceram com algum tipo de deficiência no período nazista, onde se realizava a eutanásia desses indivíduos em prol de algum tipo de eugenia. O filme transforma esses indivíduos em pseudo-super-heróis em uma bela homenagem ao filme “O Mágico de Oz”.

Um filme grandioso que consegue emocionar e chocar o público ao mesmo tempo, sem necessariamente se utilizar de chantagens emocionais baratas e muito menos transformar o grande holocausto num circo. Temos uma guerra, nazistas, os freaks e um circo dentro de um filme que não tenta nos fazer de palhaço.

Crítica por: Fabio Yamada.

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