Crítica: Donnie Darko

"DONNIE DARKO" - 2001

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Um filme sobre sobre viagem no tempo mas cujo maior atrativo não esta exatamente na travessia fantasiosa, mas sim nos sentimentos, arrependimentos e aprendizados que a maturidade ou o tempo são capazes de trazer. 

Richard Kelly consegue com seu primeiro longa-metragem recheado de referências oitentistas transportar o espectador adulto de volta para sua adolescência, através da estética e trilha sonora icônica. Nunca um filme me atingiu de forma tão incisiva quanto este, talvez por isso a minha demora em comentar sobre ele. Não que seja um filme perfeito, mas talvez eu tenha sido o espectador perfeito para este filme. Na verdade, talvez seja esse o objetivo dos filmes, viver a procura de seus espectadores perfeitos.

Qual adulto jovem não tem o desejo de retornar no tempo e corrigir erros do passado? Qual homem de meia idade não desejaria viver tudo aquilo novamente? Se num primeiro estágio sentimos uma espécie de arrependimento, num segundo tudo se transforma em nostalgia. Não que a adolescência tenha sido um período perfeito, muito longe disso, mas tendemos a acreditar que de alguma forma poderíamos ter feito algo de diferente.

Na história temos Donnie (Jake Gyllenhaal lindo) como um jovem esquizofrênico em meio a uma família dita perfeita, o pai compreensivo Eddie (Holmes Osborne), a mãe acolhedora Rose (Mary McDonnell), a irmã companheira e rebelde Elizabeth (Maggie Gyllenhaal) e a irmã espivetada Samantha (Daveigh Chase). O problemático Donnie começa a ter visões relacionadas com um homem fantasiado de coelho, Frank (James Duval), personagem que no início do filme o salva de um inusitado acidente, uma turbina de avião destrói o quarto de Donnie.

Donnie frequenta consulta com a psiquiatra Lilian (Katherine Ross) para quem conta sobre as supostas alucinações. Ao mesmo tempo, na escola a chegada de uma nova aluna Gretchen (Jena Malone) desperta os interesses amorosos de Donnie. Ainda temos um casal de professores, Kenneth (Noah Wyle) e Karen (Drew Barrymore) com que Donnie consegue conversar sobre suas elocubrações fantasiosas relacionadas as viagens no tempo, relacionadas a um livro escrito pela maluca da cidade, Roberta Sparrow (Patience Cleveland). Como antagonistas temos a professora Kitty (Beth Grant) e o palestrante Cunningham (Patrick Swayze magnífico). Além de uma pequena participação Seth Rogen novinho como um dos alunos problema da escola.

Toda essa história fantasiosa e surrealista, onde acertos podem significar erros e a constante sensação de deslocamento social, onde excluídos só encontro lugar ao lado de outros incompreendidos, faz parte da adolescência de qualquer um. Se por um lado o filme peca nos efeitos especiais, cujo o túnel de deslocamento temporal mais parece um alienígena ou um espírito descarnado, ele acerta em cheio na trilha sonoro com faixas como “Notorious" do Duran Duran, “The Killing Moon” de Echo & The Bunnymen, “Head Over Heels” do Tears For Fears e a inesquecível “Mad World” com Gary Jules.

Se o final do filme pode soar estranho e indecifrável para alguns espectadores, afinal de contas quem ou o que viaja no tempo, Donnie ou a turbina do avião ou ambos. Isso realmente não importa, pois afinal não existe mesmo essa coisa de viagem no tempo. O que fica é aquela sensação de desalento, onde parecemos sempre estar deslocados temporo-espacialmente. Em alguns momento estamos avançados demais para a época na qual vivemos e em outro atrasados demais para tanta modernidade em meio a esse mundo enlouquecido que insiste em nos dizer a todo momento que estamos na velocidade errada. 

O único consolo que resta é o de que ao final dessa viagem possamos olhar para trás e perceber que percorremos a única trilha possível e que mesmo os menores ou maiores desvio nos trariam exatamente para o lugar em que estamos agora. Alguns podem chamar de destino e outros de karma, mas a única coisa que me vem a mente são escolhas.

Crítica por: Fabio Yamada.

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