"FEBRE DO RATO" - 2010
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O filme de Cláudio Assis é considerado uma obra prima do cinema nacional por alguns críticos, um tipo de poesia cinematográfica em preto-e-branco ilustrada com as paisagens das pontes de Recife e suas periferias.
O diretor nascido em Caruaru consegue realizar uma crítica social contundente e ao mesmo tempo uma homenagem ao povo recifense através do retrato fragmentado da vida de Zizo (Irandhir Santos magnífico) e de seus amigos. O poeta, como é chamados por alguns, declama seus versos polêmicos através de auto-falantes instalados em seu fusca que transita pelas ruas da periferia da capital pernambucana. Além de disseminar suas idéias sonoramente, ele é o criador do periódico Febre do Rato que dá nome ao filme.
Claúdio Assis é responsável por várias cenas polêmicas do cinema nacional, onde expressa o ato sexual de forma natural e libertária, sendo taxado por alguns como pervertido. O protagonista do filme vive sua vida sexual sem amarras, transando com tudo que passa na sua frente em suas próprias palavras. Um de seus amigos mais próximos, Boca (Juliano Cazarré) vive com outros dois homens e uma mulher em um regime sentimental de poliamor. Outro personagem importante, Pazinho (Matheus Nachtergaele) que trabalha como coveiro vive uma relação conturbada com a transgênero Vanessa (Tânia Granussi), que formam juntos o casal mais porreta da cidade na opinião de Zizo.
O diretor consegue criar cenas inesquecíveis com sua fotografia em preto-e-branco, como o plano sequência em plongeé que capta os gestos afetivos e sexuais do quarteto amoroso saindo cama e indo para uma grande banheira. Plano este que ele também utilizou em outro filme seu “Piedade”, ao melhor estilo de Scorsese em “Taxi Driver”.
Se na minha humilde opinião, a verdadeira poesia cinematográfica reside no uso da montagem afim de criar novos sentidos a partir de fragmentos de filmagem destrinchado e teorizado pelo mestre Eisenstein e muito bem utilizado pelo exagerado Peter Greenaway. A opção de se utilizar da prosa verborrágica do protagonista escrita por Hilton Lacerda associado as belas imagens captadas maravilhosamente por Walter Carvalho consegue atingir um estado sublime poucas vezes atingido no cinema nacional.
Um belo e natural retrato do povo brasileiro, mas que infelizmente pode ter ficado no passado. Uma das melhores característica do brasileiro era a sua larga tolerância a vários aspectos do comportamento humano, religioso, sexual, ético e moral, como tudo essa volátil tolerância também tinha seu lado bom e ruim. No entanto, com o passar dos anos somos obrigados a assistir um enrijecimento desses limites de tolerância, colocando em risco uma das principais, se não a única, qualidade desse povo que um dia fora admirado em todo mundo por seu otimismo e capacidade de ser feliz.
Crítica por: Fabio Yamada.
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