"BLOODY HELL" - 2020
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Um ótimo e surpreendente filme de terror do diretor australiano Alister Grierson que já dirigiu “Santuário”, “Kokoda"e “Pare's War”. O filme consegue mesclar terror e comédia na dose certa, colocando o protagonista em situações inverossímeis mas ao mesmo tempo deliciosas para quem tem o estômago forte.
Na história, Rex (Ben O'Toole, maravilhoso) um ex-combatente militar se vê em meio a um atrapalhado assalto a uma agência bancária, no entanto, ele não aceita bem seu papel de vítima e acaba reagindo ao assalto eliminando todos os criminosos. Suas ações infelizmente causam indiretamente a morte de uma funcionária do banco e ele acaba preso por oito anos, apesar da mídia e da população em geral vê-lo como herói.
Após ser libertado da prisão, Rex não se acostuma com o assédio da imprensa e decide viajar para a longínqua Finlândia, destino que ele escolheu após um estranho método que envolve cuspe e um mapa mundi. Ao chegar ao aeroporto da cidade escandinava, Rex acaba sendo sequestrado por uma excêntrica família canibal. No entanto, antes do protagonista chegar a essa improvável conclusão, somos apresentados ao seu amigo imaginário que na verdade é uma cópia dele mesmo. Uma alucinação que o acompanha há muito tempo e o leva a conversar sozinho em várias situações hilárias.
É no porão da casa da família finlandesa que ocorre a maior parte da trama deliciosa, onde observamos a interação entre Rex e seu alter-ego, que podemos facilmente diferenciar pois a alucinação ainda mantém a perna que foi amputada de Rex para servir de almoço para a estranha família.
Rex acaba conhecendo a estranha Alia (Meg Fraser), o único membro da família que condena o estranho hábito alimentar e que já tentou fugir várias vezes sem sucesso. A cena na qual Alia refaz o curativo no coto amputado da perna de Rex é fantástica, uma mistura entre sensualidade e grotesco na medida certa, que nas mãos de outro diretor soaria revoltante.
Obviamente os dois personagens se apaixonam com uma pequena ajuda do amigo imaginário de Rex. A violência transborda aos litros de sangue na tela, mas o cuidado estético da fotografia, direção de arte e montagem resultam num trabalho esplêndido e delicioso.
Impossível não se identificar com as inseguranças e pensamentos um pouco sádicos do protagonista. Um filme que transforma o inverossímil em palatável e a violência em algo por incrível que pareça em algo belo, talvez justamente por conseguir deslocar a realidade da trama par o campo da fantasia completa. Uma ode à violência, que lembra em alguns momentos o casal de “Assassinos por Natureza”. Um encontro improvável na terra do Papai Noel, que usa a estética da violência para falar de amor. Um filme que nos mostra infelizmente o quanto a violência está banalizada em nossa sociedade e como cada vez mais estamos predispostos a aceitá-la e glorifica-la. Um filme que romanceia a linguagem da violência transformando atos de violência gráfica em verdadeiras declarações de amor. No entanto, o pior de tudo isso é perceber que nossos olhos e mentes estão perfeitamente moldados para assimilar e consumir isso tranquilamente, como se fossemos membros daquela família disfuncional.
Crítica por: Fabio Yamada.
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