"WOLF" - 2021
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Um filme perturbador sobre uma estranha patologia chamada disforia de espécie, onde os doentes assumem o comportamento de animais de outras espécies, acreditando terem nascido no corpo errado.
A história do filme se passa quase por completo dentro de uma instituição psiquiátrica, onde o administrador, apelidado de Zookeeper (Paddy Considine) tenta converter os doentes, convencendo cada um deles de sua verdadeira natureza humana. Entre os internos estão o Pato (Senan Jennings), o Esquilo (Darragh Shannon), o Cavalo (Elisa Fionuir), o Papagaio (Lola Petticrew), a Aranha (Amy Macken), o Pastor Alemão (Fionn O’Shea) e o Gato Selvagem (Lily-Rose Depp).
A chegada de Jacob (George MacKay) desestabiliza a frágil rotina dos demais pacientes, a resistência de Jacob em abandonar a persona do Lobo e sua aproximação com a Gato Selvagem desafiam o Zookeeper, que se vê obrigado a utilizar métodos de conversão extremos. Não que seus métodos fossem convencionais, muito longe disso. O Zookeeper confronta as identidades dos pacientes, obrigando-os e incentivando-os a realizar ações típicas de suas personas. Ele obriga o Esquilo a escalar uma árvore utilizando apenas suas garras, o Papagaio a voar saltando de uma janela e sanciona uma dieta típica dos lobos. Tudo isso, com a intenção de que os internos racionalizem seus instintos e reavaliem seus comportamentos diante dos riscos e inconvenientes das ações específicas de suas personas.
Tudo dentro da instituição evoca as vantagens e superioridades típicas e inerentes ao ser humano, sejam atividades de socialização em grupo, como passeios, dança ou refeições. As interações em grupo entre os pacientes, na maior parte das vezes, soam como mecânicas e forçadas em contraste com suas performances ao assumir o comportamentos animal, que por mais deslocados e inusitados que sejam, transparecem uma real satisfação e felicidade dos personagens.
No entanto, tenho que concordar que é muito difícil se identificar com personagens que assumem essa postura. O trabalho físico e corporal dos personagens, principalmente de Jacob, com a postura dos membros e o estilo de caminhada são deslumbrantes e assustadores. Apesar disso, talvez houvesse espaço para uma caracterização embalada por algum tipo de realismo mágico, onde os desejos e as sensações dos personagens moldassem e transmutasse o mundo físico.
A diretora ao invés disso, prefere uma abordagem mais realista, focando nos conflitos mais práticos da trama, deixando uma pouco de lado as possibilidades e especificidades cinematográficas que o cinema permite. Ao final, temos um protagonista que deve decidir entre uma relação amorosa dentro de uma jaula, com sua possível alma gêmea, apesar desta ser de uma espécie diferente da sua, ou optar pela liberdade de uma vida sem grades visíveis, mas cercada por preconceito e violência, na qual ele pode abraçar seu lado mais primitivo.
Um filme que abre algumas questões com suas metáforas, seja pelo paralelismo com a transexualidade e sua disforia de gênero ou por um mundo onde seus habitantes liberam seus instintos mais primitivos e irracionais, tornando-se cada vez menos sociáveis. Quem são os verdadeiros animais dessa história? Será que algum dia realmente tivemos a capacidade de viver em sociedade?
Crítica por: Fabio Yamada.
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