"KNIVES AND SKIN" - 2019
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Um pequeno grande filme que manifesta o feminino em toda uma grande pluralidade, mas tenta ao máximo fugir do realismo que estamos acostumados e apaziguados a ver em noticiários de TV, utilizando uma estética expressionista para deslocar e confundir o olhar do espectador e assim tentar imergi-lo nesse universo surrealista e assim sensibilizar a alma estéril de coração de pedra do público que assiste a obra.
O filme se inicia com uma cena de assédio sexual entre adolescentes à beira de um lago a noite. Carolyn (Raven Whitley) está acompanhada do jogador de futebol da escola Andy (Ty Olwin) que apesar de ter uma namorada tenta seduzir a jovem integrante da banda de fanfarra da escola. Após a relutância de Carolyn em ceder aos desejos de Andy, este a abandona na escuridão do lago sem seus óculos. Carolyn incapacitada da visão não consegue retornar para sua casa.
Acompanhamos então a rotina dos alunos da escola de Carolyn e dos pais desses alunos que ficam de alguma forma impactados pelo seu desaparecimento. Os três principais núcleos da história corresponde a três diferentes personagens feminina Joanna (J. G. Smith), uma jovem introspectiva que vive com a mãe depressiva e o pai adúltero; Charlotte (Ireon Roach), uma garota negra e inteligente com auto-estima baixa que reluta em se apaixonar e Laurel (Kayla Carter), uma garota extrovertida que namora com Andy mas reluta em reconhecer sua paixão pela colega Afra (Haley Bolithon).
Todos os personagens na tela são impactados de alguma forma com o desaparecimento da Carolyn, mas ninguém mais do que sua mãe Lisa (Marika Engelhardt). As interações surreais e insólitas entre cada um dos personagens acentua essa sensação de deslocamento do espectador, que através dessa ótica distorcida dos acontecimentos consegue encontrar pontos de conexão com histórias da realidade de cada um de nós, de garotas da nossa escola, de mulheres do nosso passado, de nossas mães e tias, nossas filhas e sobrinhas.
Apesar de situações extremamente clichês nenhum dos personagens toma as condutas que esperamos deles, afinal estamos acostumados sempre com dois extremos, o politicamente correto ou comportamento sociopatas que chocam o espectador. cada um desses personagens são emocionalmente instáveis e loucos, mas totalmente verossímeis ao mesmo tempo. A direção de arte, fotografia, cenografia e figurino fazem o máximo para criar essa atmosfera surrealista, onírica e expressionista, onde as emoções estão a flor da pele com esse corpo ausente que apesar de morto insiste em se locomover e fugir dos olhares de quem o procura.
A trilha sonora e as músicas cantadas por um coral das meninas da escola regidas pela mãe de Carolyn é um show a parte. Impossível não se emocionar com as vozes e palavras de músicas como “Promisses, Promisses”, “Blue Monday” ou “Girls Just Want To Have Fun”.
Essa mistura entre “Twin Peaks” moderno e “Donnie Darko” feminista rende um bom filme que incomoda e emociona na medida certa sem apelar para lágrimas baratas ou lugares comuns.
Crítica por: Fabio Yamada.
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