Crítica: Minx

"MINX" - 2022

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Uma grata surpresa da HBO que apresenta mais uma série interessante que se utiliza do apelo sexual para discutir assuntos muito mais profundos, geralmente, reprimidos e encobertos por uma sociedade cada vez mais conservadora e hipócrita.

Em plena década de 70, logo após a revolução sexual, a indústria pornográfica impressa está em alta com milhares de produtos dedicados ao público masculino, muito antes do surgimento da internet ou da febre das fitas VHS. Período simultâneo com o surgimento e alastramento dos movimentos feministas pelo mundo, contrapondo-se em grande parte a objetificação do corpo feminino. Uma jovem escritora Joyce (Ophelia Lovibond, maravilhosa) tenta publicar uma revista feminista “O Matriarcado Desperta” com um editorial todo voltado para o público feminino com artigos sobre controle de natalidade, paridade de direitos e etc.

No entanto, numa indústria editorial chefiada por homens, eles acreditam que mulheres estão interessadas apenas em beleza, moda, viagens e receitas culinárias. Não que essa crença tenha mudado muito. Consequentemente, Joyce fracassa por completo em todas as suas frustradas tentativas de vender o projeto de sua revista, até um inusitado encontro com Doug (Jake Johnson), um editor de revistas pornográficas que faz uma proposta ousada e um pouco indecente para Joyce, a de criar um revista voltada para o público feminino que mescle seus artigos e fotos de nu masculino. Um produto inédito até aquele momento. 

Joyce, revoltada, inicialmente não aceita a proposta, mas após várias idas e vindas acaba indo conhecer a editora e sua equipe de funcionários, Bambi (Jessica Lowe) uma modelo que deseja fazer parte do editorial, Tina (Idara Victor) a gerente amante de Doug e Richie (Oscar Montoya) o fotógrafo talentoso pouco reconhecido.

Após muitos percalços, discussões e muitos, mas muitos mesmo, pênis a mostra, o primeiro volume da revista é lançado. O que num primeiro momento parece um imenso fracasso, com as revistas escondidas nas bancas e boicotadas por movimentos feministas, acaba se tornando um imenso sucesso, virando uma febre nacional.

Além dos personagens cativantes, uma história ousada e original, uma bela fotografia, direção de arte e figurinos impecáveis, a produção consegue se utilizar da metalinguagem para criar um paralelo entre as discussões sobre o nu masculino e o empoderamento feminino dentro do filme e foras das telas. Afinal, a discussões sobre quanto pênis podem ser exibidos numa série de TV ou quem afinal tem interesse em ver um pênis ereto fora dos limites dos filmes pornográficos, por incrível que pareça permanecem até os dias de hoje. Veja por exemplos os questionamentos sobre quantidade de atores pelados no seriado “Euphoria" ou o tamanho do membro dos atores ou se eles usam prótese ou não, em produções como “Sex/Life”.

Independente desta questão anatômica, a série não é feita somente de homens nus desfilando de uma lado para o outro, a protagonista é colocada em diferentes situações que testam sua força de vontade, questionam seus valores ético e morais, revelam seus próprios preconceitos e contradições. A presença de Doug e sua editora na vida de Joyce tenta mostrar para a personagem e para o público, que não adianta sermos muitos rígidos em nossos projetos ou exigências, afinal nós não temos todas as respostas e não acertamos todas as apostas. Na maior parte das vezes para atingirmos nossos objetivos devemos ser mais abertos a mudanças e menos intransigentes, mesmo que para isso tenhamos que enfrentar nossos próprios fantasmas e nos depararmos com muitas de nossas falhas.

As vezes para conseguirmos sermos ouvidos ou para atiçar o interesse de um determinado público alvo, mesmo sabendo precisamente do que esses ouvintes precisam, devemos descer de nosso pedestal intelectual e abrir mão de alguns valores frívolos. Utilizando, para tanto, meios de comunicação e artifícios de marketing para vender nossas idéias e produtos. Na linguagem popular oferecer o que o público quer e ceder ao clamor do povo. Seremos taxados de vulgares, vendidos ou prostitutos do mercado, mas para conseguir atingir nossos objetivos vale tudo, até revista de homem pelado, no caso da nossa querida editora Joyce.

Crítica por: Fabio Yamada.

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