"DIRTY LINES" - 2022
🔑🔑🔑🔑
Mais uma série que coloca uma mulher no meio de indústria voltada para o entretenimento sexual, uma produção original da Holanda que narra o surgimento dos antigos “Disque sexo”, muito antes da chegada da internet e das câmeras privês, com suas camgirl ou camboys.
Estamos mais exatamente no final da década de 80, no início das festas eletrônicas, numa Amsterdam não tão na moda assim e muito menos turística, apesar de seus belos canais e museus. O Bairro da Luz Vermelha já existe com suas garotas seminuas, mas a epidemia da AIDS está no auge e nada melhor do que satisfazer seus desejos sexuais sozinhos no conforto de sua casa, usando um aparelho telefônico e uma boa dose de criatividade e fantasia.
A série apresenta dois núcleos, aparentemente distintos, com Marly (Joy Delima) e Janna (Julia Akkermans) como estudantes de psicologia especializadas em sexualidade de um lado e Frank (Minne Koole) e Ramon (Chris Peter) como empreendedores do famoso e vulgar disque sexo do outro.
A dupla de empresários, cada qual com suas respectivas esposas e dilemas pessoais, Frank sendo cobrado para ser pai e Ramon como um homossexual enrustido iludindo sua companheira e a si mesmo. As duas estudantes lutando pela independência financeira e descobrindo os prazeres da liberdade sexual, cada qual a sua maneira, com Janna se apaixonando por um DJ promíscuo e Marly com sua paixão pelo professor casado, mas que luta para atingir o primeiro orgasmo.
Os mundos dessas duas duplas inusitadas se cruzam em meio a festas de músicas eletrônicas regadas com muitas bebidas e drogas. Marly vai até a sede da empresa telefônica para realizar uma gravação de uma aventura sexual, sim, as ligações são apenas gravações, sem interação entre os interlocutores. A gravação é um fracasso, mas ela acaba aparecendo em um programa e de TV e sua vida vira do avesso após ser expulsa de casa.
A montagem divertida e a quebra da quarta parede com Marly dando uma de “Fleabag" e conversando com o público, apesar de não ser original consegue entreter sem ser enfadonho. As peripécias e enrascadas que os inusitados empresários de sucesso se metem são divertidas, mas tudo começa a ficar meio repetitivo depois de alguns episódios. Talvez, eu por ser mais velho, não tenho a distância necessária desses eventos ou dessa realidade, para enxergá-las como tão exóticas e divertidas assim. Talvez o público mais jovem, consiga se divertir por causa do cenário exótico onde pessoas conseguem se satisfazer sexualmente sem o apelo visual ou das famigeradas trocas de nudes ou sexting. Talvez, os jovens de hoje se divirtam ao não acreditarem que existiam pessoas que dançavam e se drogavam a noite inteira de som eletrônico em pistas escuras e enfumaçadas de cigarro.
No entanto, para senhores como eu, isso remonta a uma época que não parece tão distante assim e que apesar de confusa e desencontrada, essa realidade e atmosfera conseguia nos divertir e enlouquecer a ponto de só retornarmos para casa ao amanhecer. Se sexualmente éramos bem mais reprimidos e temerosos, preenchíamos essas lacunas com uma grande dose de criatividade e fantasia. Num mundo onde a sexualidade está escassa, as pessoas conseguem ganhar dinheiro vendendo esse tipo de produto, mas em uma sociedade como a atual a sexualidade está muita mais aberta, plural e despudorada. Ninguém precisa esconder nada, pelo menos por enquanto, fica um pouco mais difícil vender qualquer tipo de entretenimento sexual quando todo mundo consegue se satisfazer de graça, vendo pornografia on line e aplicativos de encontros sexuais. O sexo como produto perdeu o seu valor de mercado, tornando o universo dessa série muito mais cômico, divertido e surreal. Suavizando então, algumas críticas sociais e comportamentais, que poderiam ser melhor incorporadas a trama.
Negócios e sexo à parte, a séria é dinâmica e divertida, um bom entretenimento para os nostálgicos de plantão. Diante do que o futuro possa nos reservar, talvez seja bom se divertir e recordar a vivacidade de uma época de descobertas, o famoso “Verão do Amor”, antes que o temeroso e sombrio “Inverno da Alma” chegue.
Crítica por: Fabio Yamada.
Comentários
Postar um comentário