Crítica: Cavaleiro da Lua

"CAVALEIRO DA LUA" - 2022

🔑🔑🔑🔑🔑



Tenho que revelar, logo de início, que não sou muito fã dos filmes e seriados da Marvel. Talvez por isso mesmo, eu evite de fazer qualquer tipo de comentário ou resenha sobre suas produções.  No entanto, eu assisti sim a quase todos os filmes do universo Marvel e algumas das séries derivadas. Tenho que admitir que fiquei encantado com essa produção, seja pela história, pelo complexo personagem, pelo protagonista e restante do elenco.

Vou começar pelo personagem ou personagens interpretados magnificamente por Oscar Isaac, o tal cavaleiro da Lua é um herói dos quadrinhos que possui uma personalidade esquizofrênca, com múltiplas personalidades cujos poderes ao se transformar varia com as fases da Lua. A relação dele com a mitologia egípcia poderia ou não ser mais um fruto de um desses distúrbios de personalidade. No entanto, na minissérie de seis episódios, os roteiristas tiveram que reduzir as personalidades para apenas duas com seus supostos avatares heróis diferenciados e coube ao ator a compor esses personagens, Marc como um violento e mercenário que caça antiguidades e Steve como um educado e gentil atendente de um museu britânico.

A dissociação do protagonista permite aos diretores a liberdade de criar elipses temporais que, inicialmente, subtraem grande parte da ação sanguinária do super herói. Num piscar de olhos, Steve está numa enrascada tremenda e sem saída para logo depois acordar com todos os inimigos mortos. Um instrumento delicioso de linguagem, que ao mesmo tempo intriga o espectador e potencializa a dissociação de personalidades do protagonista.

Aos poucos Steve vai em busca de alguma explicação para o que está acontecendo e simultaneamente colide com a trajetória do vilão principal Harrow (Ethan Hawke), como um profeta de uma seita egípcia que deseja ressuscitar uma deusa vingativa e sanguinária.

O melhor de Steve dentro da própria consciência o leva a descobrir que seu corpo tem sido possuído por duas entidades, a primeira a do mercenário Marc que por sua vez é possuído de deus Khonshu, que deseja a todo custo impedir que a deusa Ammit seja libertada. Não vale a pena, ficar dando mais spoilers por aqui, o importante a dizer é sobre a composição desses dois personagens, que mesmo com pouco tempo de tela, conseguimos perfeitamente distinguir um do outro, cada qual com sua complexidade particular. Um verdadeiro show de Oscar Isaac.

A mitologia egípcia, mesmo que apresentada de forma superficial, preenche completamente o imaginário de espectador, seja pela criação de um universo paralelo ou pela criatividade estética de cada um dos deuses com uma ousada e realista caracterização de suas origens em animais (hipopótamos, crocodilos e pássaros).

Os roteiristas, na minha opinião, conseguiram vencer os enormes desafios de, em apenas poucos episódios, apresentar um personagem complexo com várias personalidades e avatares de forma convincente, dar uma pincelada na mitologia egípcia, criar personagens secundários e desenvolver arcos narrativos quase que completos dos dois personagens principais.

Deixando o melhor para o final, a direção dos episódios que ficaram a cargo de Mohamed Diab, um diretor egípcio responsável pelo magnífico filme “Clash" de 2016 e pela dupla Justin Benson e Aaron Moorhead, que realizaram vários filmes perturbadores de terror e suspense como “The Endless” de 2017, “Resolution" de 2012 e “Primavera" de 2014. O talento desses diretores permitiram que o seriado navegasse de forma harmoniosa entre diferentes gêneros, da ação para o drama, da comédia para o terror e da fantasia para o suspense. Presenteando o público com um produto de entretenimento de qualidade com um personagem complexo que ainda tem muito o que ser explorado, mesmo que para desespero de alguns fãs fanáticos, esteja completamente descolado dos outros heróis do universo Marvel. Talvez por isso mesmo mais interessante aos meus olhos, um personagem menos contaminado.

Crítica por: Fabio Yamada.

Comentários