"ALUCINAÇÕES DO PASSADO" - 1990
🔑🔑🔑🔑🔑
Um filme assustador que superficialmente oferece ao espectador uma trama sobre experimentos de drogas em soldados durante a Guerra no Vietnam e seus efeitos alucinógenos nos sobreviventes, que começam a ver imagens demoníacas.
Sim essa poderia ser uma das leituras do filme dirigido por Adrian Lyne ("Flashdance", "9 1/2 Semanas de Amor") e roteirizado por Bruce Joel Rubin, responsável pelo roteiro de “Ghost”. Quem questionaria ou imaginaria que por trás desses nomes do cinemão comercial de Hollywood poderia existir várias outras camadas de leitura com matizes religiosos, filosóficos e espirituais? Talvez o título em inglês “Jacob's Ladder” ou alguns frases enigmáticas e soltas proferidas por alguns personagens indicassem teorias sobre outros planos espirituais e mentais, ou releituras sobre demônios, anjos e inferno. Mas antes de entrarmos por esse caminhos, vale lembrar que independente do que o roteirista tinha na cabeça quando escreveu o roteiro, o diretor conseguiu criar um universo labiríntico de memórias que misturam tempo e espaço que por si só poderiam representar o inferno pessoal de qualquer um, independente da existência ou não de demônios ou do inferno.
O filme começa com uma montagem de imagens e cenas da guerra do Vietnam, onde o protagonista se vê em meio a uma emboscada mortal, com seus companheiros mortos e ele mesmo ferido letalmente. Jacob (Tim Robbins) desperta num vagão do metro em movimento e descobrimos que tudo não passou de uma mera lembrança. Agora ele é um carteiro que vive em Nova York com sua namorada Jezebel (Elizabeth Peña). Jacob começa a ser assombrado por entidades demoníacas sem rosto que o perseguem pela cidade. Ele vive com dores musculares que são tratadas pelo quiropraxista Louis (Danny Aiello), que além de massagens e conselhos amorosos, discorre sobre teorias sobre de demônios que queimam as memórias e partes de suas que não te deixam seguir em frente, mas que ao se libertar e aceitar a morte, eles se transformam em anjos que te guiam ao paraíso.
Os sonhos ou memórias de Jacob revelam uma outra vida no passado, onde ele ainda era casado com Sarah (Patrícia Kalember) e tinha dois filhos, um deles Gabe (Macaulay Culkin) que morreu em um acidente. As histórias ou lembranças ou realidades começam a se misturar na cabeça de Jacob, na tela e consequentemente dentro na nossa própria cabeça. Não sabemos mais quando estamos no passado, presente ou futuro, ou se algumas dessas coisas realmente aconteceu daquela forma como Jacob se lembra, ou se são apenas efeitos da droga experimental do exército.
Jacob tentar desvendar o mistério a todo custo e se recusa a aceitar que está louco, enquanto o espectador tenta remendar teorias sobre o que está acontecendo na tela. Após muitas imagens assustadoras, verdadeiras descidas ao inferno acompanhados de todos os tipos de demônios e dores possíveis, físicas, emocionais ou mentais, Jacob finalmente se liberta.
Alguns críticos vão falar sobre o que cada uma das vidas lembradas por Jacob representam planos emocionais, mentais e reais, onde no momento de morte temos que nos desencarnar de tudo para podermos ser livres para a próxima passagem. Tenho que admitir que inicialmente odiei o final do filme e me senti extremamente enganado por uma solução fácil.
No entanto, repassando toda a história e após entender uma pouco sobre precedentes do roteirista acredito que existem várias camadas de leitura do filme e que o diretor conseguiu criar um espetáculo tão arrebatador e aterrorizante que nos transporta para esse inferno labiríntico do personagem. Afinal cada um de nós tem o seu inferno particular enterrado em nossas memórias afetivas, povoado por culpas, arrependimentos e dores. Traze-los a tona e revive-los a todo momento é uma decisão que só cabe a nós mesmos. Uma droga que nos coloque em contato contínuo com esses pesadelos nos transformariam em verdadeiros monstros ou soldados perfeitos.
Alguns de nós não precisa de droga nenhuma para criar o próprio inferno e se agarrar a cada dor que tenta se amortecer, criando feridas cada vez mais profundas para reavivar aquela sensação que talvez seja a única prova de que ainda está vivo. Os demônios as vezes querem nos tirar as dores de estimação, com a intenção de seguirmos em frente e vê-los como anjos, mas existem aqueles que preferem a companhia aconchegante e sombria de seus próprios demônios.
Crítica por: Fabio Yamada.
Comentários
Postar um comentário