Crítica: “WADJDA” OU “O SONHO DE WADJDA” 2014

“WADJDA” OU “O SONHO DE WADJDA”  - 2014
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     Um filme simples e poderoso que retrata a sociedade saudita a partir de um microcosmos de uma menina que tem o sonho de ganhar uma bicicleta.


    Imagine uma cineasta mulher filmando um filme com protagonistas femininas sobre a repressão contra mulheres na Arábia Saudita, um país no qual durante 35 anos foi proibida a existência de salas de cinema (as salas passaram a ser permitidas somente em 2017). Somente esses fatos já tornam o filme um achado imperdível.

    Na história temos a nossa protagonista Wadjda (Waad Mohammed), que estuda em um rígido colégio muçulmano, cuja rotina é estudar e recitar o Alcorão. Wadjda se destaca de suas amigas por ao invés de usar sandálias pretas, ele ostenta em seus pés um surrado par de tênis Allstar.

    Ela adora andar na bicicleta do amigo Abdullah (Abdullrahman Al Gohani), seu vizinho, mesmo que seja às escondidas. Ela mora com sua mãe (Reem Abdullah), que faz tudo para agradar o marido ausente. Sua mãe vive o dilema de que o marido está programando um casamento com uma segunda esposa. Ela já prevê que que ambas serão deixadas de lado.

    Na escola, Wadjda participa de um concurso para conseguir dinheiro com objetivo de comprar a bicicleta. Acompanhamos o esforço de Wadjda em decorar a leitura do Alcorão sob a orientação de sua rígida professora, Hussa (Ahd).

    Wadjda consegue vencer o concurso com seu esforço, no entanto, assim que revela seu sonho de comprar a bicicleta, a professora obriga Wadjda a abrir mão do prêmio.

    É nesse ambiente extremamente repressor, que a diretora Haifaa Al-Mansour constrói sua história, que apesar do tema pesado, imprime uma atmosfera leve e otimista. A crítica social está lá, presente em todos os ambientes, seja na repressão do ambiente escolar, na submissão ao marido ou nos costumes mais banais.
    Fico imaginando que essa repressão está tão enraizada na sociedade árabe, que os censores masculinos não conseguiram nem perceber as críticas nada sutis do filme.
Crítica por: Fabio Yamada

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