"VEM BRINCAR" - 2020
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Existem alguns pequenos filmes que tem a capacidade de surpreender o espectador justamente por este não ter gerado nenhuma espécie de expectativa.
O filme cria um paralelo entre o autismo e o isolamento e solidão gerados pelas plataformas digitais. Na história em si temos Oliver (Azhy Robertson excelente) como um garoto autista que mora com os pais e não tem nenhum amigo. Ele se comunica através de um aplicativo de celular que gera verbalmente as palavras digitadas e passa seus dias assistindo Bob Esponja na TV. Apesar de ser muito bem cuidado pela mãe Sarah (Gilian Jacobs) acaba sendo negligenciado afetivamente por ela, papel que acaba sendo suprido ocasionalmente pelo pai Marty (John Gallagher Jr.).
Em um determinado dia, Oliver recebe um livro digital que conta a história de Larry, um monstro mal-compreendido (esse é o título do livro), que conta a história de um monstro de 3 metros de altura com braços e pernas alongadas, pele pálida e olhos vermelhos. Segundo o livro, Larry está solitário e busca por amigos, mas as pessoas não entendem a sua solidão.
Larry começa a adentrar a vida de Oliver aos poucos, primeiro observando a rotina do garoto através da janela das telas de aparelhos digitais, para depois se materializar em seu quarto. Larry promete que deseja apenas proteger Oliver de seus inimigos que praticam bullying com o garoto autista.
As primeiras aparições de Larry no mundo real são realmente assustadoras e criativas, mesmo que alguns filmes já tenham utilizado aplicativos com máscaras virtuais que captam movimento para gerar sustos, neste filme ele é utilizado de uma forma inovadora.
O filme mostra uma face menos perturbadora da doença com a finalidade de gerar algum grau de empatia entre publico e protagonista, afinal geralmente o enfermo permanece muito mais isolado em seu mundo do que é apresentado no caso de Oliver, podemos dizer que a caracterização mais fidedigna da doença está no monstro Larry que realmente observa o mundo real através de janelas e com pouca interação com outros personagens.
A caracterização do monstro é assustadoramente bela, desde suas aparições invisíveis até finalmente surgir na tela em carne e osso. A violência apresentada por Larry como resultado de um gesto de carinho, cria uma metáfora com os surtos violentos dos pacientes autistas.
Ao meu ver os pacientes autistas não consegue interagir com a realidade ao seu redor e não possuem essa necessidade ou carência de amizades. A solidão e o isolamento faz parte do modo de vida do autista. Larry e Oliver são duas espécies diferentes de monstros que servem para ilustrar o distanciamento social que as plataformas digitais desencadeiam na sociedade.
Interessante pensar que um instrumento que foi criado para aproximar pessoas que estão a uma grande distância consegue criar barreiras entre pessoas que estão próximas. As pessoas estão perdendo a capacidade de se comunicarem e se expressarem diretamente sem filtros ou emojis, necessitando cada vez mais de plataformas e janelas que as protejam do meio externo.
Se não tomarmos cuidado, logo em breve, seremos incapazes de captar as emoções do próximo sem que haja algum tipo de legenda ou sinalização na tela e não saberemos viver nossas próprias experiências de vida sem algum tipo de manual ou tutorial da internet. Se isso representa algum tipo de doença, eu não sei; mas muito se assemelha ao mundo de um autista.
Crítica por: Fabio Yamada.
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