"SAINT MAUD" - 2019
🔑🔑🔑🔑🔑
Uma belo e surpreendente filme de terror psicológico sobre uma enfermeira extremamente católica que vai cuidar de uma doente terminal.
Nessa trajetória pelo obscuro universo feminino já pressupomos um grande embate entre as duas protagonistas. No entanto, a diretora consegue nos surpreender com suas escolhas narrativas e estilísticas. A diretora/ roteirista do filme acompanha desde o início do filme os movimentos e pensamentos da protagonista Maud (Morfydd Clark), se inicialmente percebemos apenas alguns desvios de personalidade na primeira parte do filme, isso vai ficando cada vez mais perceptível no decorrer da história.
Maud começa a trabalhar na casa de Amanda (a bela Jennifer Ehle), um ex-bailarina e coreógrafa que sofre de um linfoma avançado e necessita de cuidados paliativos. Logo de cara, já imaginamos uma personagem ranzinza e mau-humorada, mas a diretora nos surpreende ao apresentar uma paciente terminal que tem seus momentos de excesso, mas apresenta um desejo de vida e uma compreensão de seu estado muito mais edificante do que muitos seriam ao estar na sua situação.
A relação entre as duas personagens vai se estreitando aos poucos e elas vão se aproximando apesar das marcantes diferenças sociais e pessoais. Enquanto, Amanda é extremamente lúcida e vívida, com toques de luxúria beirando a depravação; Maud apresenta-se extremamente apática e letárgica evidenciando sua solidão. O grande embate entre as duas personagens decorre justamente daquilo que mais as aproxima. Maud ao tentar salvar a alma de sua paciente com suas orientações religiosas e comportamentos regrados, tenta impedir que Amanda se relacione com uma de suas amantes garotas de programa. Durante, uma festa na casa de Amanda, Maud é confrontada em relação ao preconceito que ela pode vir a ter contra a homossexualidade feminina e acaba tendo uma reação desproporcionalmente violenta.
A partir desse ponto da história passamos a acompanhar a rotina solitária de Maud, uma personagem invisível para o mundo a sua volta, praticamente descolada da realidade social de onde vive. O recalque e o recato de Maud em relação a sua sexualidade se contrapõem em relação aos devaneios que ela tem em seus momentos de iluminação divina. Momentos esses que na cabeça de qualquer cristão apostólico romano deveriam evocar um certo tipo de pureza, mas que são expressos pela diretora como espasmos e convulsões orgásticas.
Nesse momento do filme, Maud começa a questionar suas escolhas e orientações divinas, decidindo recharçar seus desejos sexuais relacionando-se com vários homens. Após uma noite de bebedeira, solidão e depravação, Maud retorna para casa arrependida e sem direção. Nesse momento, ela tem uma nova revelação.
O cuidado estético e a opção da diretora em jamais questionar a insanidade da protagonista são os grandes pontos diferenciais do filme. Deixando o expectador apreensivo e angustiado em relação ao que a benevolente Maud será capaz de realizar para salvar a alma da nem tão pura Amanda. O embate final do filme é realmente de cair o queixo, além é claro do desfecho da personagem que cria uma inebriante e irônica imagem do seja uma mulher iluminada.
Crítica por: Fabio Yamada.
Comentários
Postar um comentário