Crítica: The Old Ways

"THE OLD WAYS" - 2020

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Tenho que admitir que estou meu obcecado por filmes sobre satanismo, possessões e exorcismos, talvez por causa da escrita do meu último roteiro que envolve temas semelhantes. Seria quase que um imersão neste tipo de universo já que não encontro maneiras de chegar ao inferno, como se já não vivêssemos em um aqui na terra, cercado por seres possuídos ou abduzidos por outro tipo de ser mitológico.

Brincadeiras à parte, esse filme americano com uma história latina conseguiu me surpreender de várias formas. Inicialmente, já mergulhamos de cara no ponto de vista da suposta personagem possuída pelo demônio, Cristina (Brigitte Kali Canales). Ela é uma jornalista americana que retorna a sua cidade natal mexicana. lá ela acaba sendo sequestrada por um seita mística composta por Javi (Sál Lopez) e Luz (Julia Vera), uma anciã com o rosto pinta de olhos penetrantes. Ambos afirmam veementemente, que Cristina está possuída por uma entidade demoníaca, fato que a protagonista nega com todas as suas forças. 

Inicialmente, acreditamos na protagonista que aparentemente aos nossos olhos e aos dela mesmo não possui nenhum traço de possessão dos quais estamos acostumados a ver no cinema. Ela não levita no ar, não emite jato coloridos de vômitos, não fala nenhuma língua morta e muito menos gira a cabeça 360 graus. O pior comportamento condenável que nossa heroína tem é o de se injetar de vez em quando, e mesmo amarrada e contida, a única coisa que tenta conseguir antes de escapar fisicamente da situação é conseguir recuperar seu arsenal de drogas.

Após várias sessões de interrogatório e muitos banhos de leite, Cristina recebe a visita de sua prima Miranda (Andrea Cortés) e aos poucos vamos desvendando o motivo pelo qual seus sequestradores acreditam na tal possessão.

O desenho do roteiro nos coloca na pela da coitada que sofre até se convencer que realmente está com o demônio dentro do corpo. A fotografia, direção de arte e cenografia dos rituais aos quais Cristina é submetida são extremamente belos e assustadores, mostrando uma nova forma de exorcismo sem aquela velha ladainha bíblica.

Os antecedentes pessoais e familiares das duas garotas surgem através de flashes de memória de Cristina, que cria algumas belas metáforas tanto para sua visita dela a tal malfadada caverna assombrada quanto para a sobrevivência de seu solitário peixe dentro do aquário em seu escritório de trabalho.

Algumas camadas de leitura podem ser abstraídas dessa história de retorno as raízes e redenção, afinal fantasmas e demônios nada mais são do que sentimentos e dores que carregamos dentro de nós mesmos. Estamos sempre a procura uma saída ou cura para tais dores, seja na luz de uma religião, na escuridão de uma caverna ou nas alucinações de uma droga. Os tais demônios são sempre partes desconhecidas de nós mesmos que precisamos reconhecer e entender para aí sim decidir o que fazer com elas. Alguns tentam extirpa-las como a um câncer e ficam mutilados para o resto da vida. Outros os mantém escondidos e camuflados nas regiões mais escuras de suas almas, mantendo uma vigília constante e extenuante. No entanto, alguns poucos conseguem aceitar esses demônios como parte de sua vida e consequências de suas escolhas, expondo suas cicatrizes e dores para o mundo, deixando para os outros as dores e julgamentos de aceitarem ou não viver ao seu lado.

Crítica por: Fabio Yamada.

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