"A MULHER DO ESPIÃO" - 2020
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Um filme corajoso do diretor japonês Kiyoshi Kurosawa que aparentemente deixa um pouco de lado seus clássicos filmes com temática sobrenatural e de terror, para produzir seu primeiro filme de época e de guerra, retratando uma sociedade japonesa na época da Segunda Guerra Mundial.
Não que o tema também não possa ser encarado como algum tipo de terror físico e psicológico, afinal temos violência, tortura, perseguição política e armas de destruição em massa.
Kurosawa venceu o prêmio de melhor direção em Veneza com esse filme que conta a história de um casal que reside na cidade de Kobe, Yusako (Issey Takahashi), um comerciante que negocia mercadorias importadas e Satoko (Yû Aoi), sua bela esposa que trabalha como atriz nos filmes produzidos pelo marido como uma espécie de hobby.
Os dois personagens testemunham a escalada do autoritarismo e violência em sua cidade, através de prisões arbitrárias e censura de informações. Após o ingresso do Império Japonês no Pacto Tripartite com a Alemanha de Hitler e a Itália de Mussolini, Yusako decide lutar pelos seus ideais de liberdade e parte para uma viagem à Manchúria, território chinês ocupado pelo Japão.
Durante, este período Satoko alheia as verdadeiras intenções do marido, começa a desconfiar da fidelidade deste. O ciúmes de Satoko floresce simultaneamente com a aproximação de Taiji (Masahiro Higashide) um militar de alta patente do exército japonês. Após o retorno de Yusako, a atmosfera de perseguição no ambiente externo se mescla ao clima de paranóia dentro da mente de Satoko, deixando o espectador sem saber ao certo aonde termina o terrorismo na sociedade japonesa e onde começa a loucura de Satoko.
Após uma revelação bombástica de Yusako documentada em um diário de viagem, Satoko finalmente começa a entender para onde caminha o povo japonês guiado por uma lealdade cega para com seu Imperador. A relação amorosa entre os dois personagens é responsável por antagonizar forças contra essa devoção kamikaze do povo japonês.
Os cônjuges apaixonados tentam ludibriar um ao outro em nome do amor, afim de conseguir entregar informações cruciais para as nações do ocidente, afim de que os Estados Unidos finalmente ingressem na guerra. A cartada final de Yusako contra a esposa é bela e poética, para alguns poderia soar como uma traição, mas para outros como uma verdadeira dedicatória de amor.
A traição entre os dois amantes transforma-se em um belíssima metáfora para aqueles que traem sua pátria em nome de um bem maior chamado humanidade. As vezes podemos nos encontrar em meio de uma nação de loucos ludibriados por ditador ensandecido e genocida; nesses momentos trair sua pátria ou seu povo às custas de sua própria vida pode ser a maior prova de amor e nacionalismo. Aqueles que morrem durante esse processo se transformam em heróis ou são completamente esquecidos, no entanto aqueles que sobrevivem tem que encarar a dor e a culpa de contemplar sua nação devastada.
Crítica por: Fabio Yamada.
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