"MEDIDA PROVISÓRIA"- 2022
🔑🔑🔑A resistência do cinema nacional, a partir de histórias centralizadas nos personagens negros, sofridas pela atual governo conservador bolsonarista, é alvo de debates acirrados e polêmicos. Um dos filmes que passou por esses ataques foi Marighella de Wagner Moura em 2019 que teve filme adiado e até quase censurado. Além de Moura, Lázaro Ramos, também está vivendo a mesma situação que seu colega com seu recente trabalho em "Medida Provisória", adaptando uma peça teatral Nambía, não, escrito pelo ator Aldri Anunciação que interpreta o personagem Ivan no filme, um dos integrantes do AfroBunkers. A peça já havia sido dirigida por Lázaro Ramos junto com Márcio Meirelles Fernando Philbert em 2011. Depois de passados exatamente onze anos, lazaro decidiu retomar o projeto, só que dessa vez em formato de longa metragem, se aventurando pela primeira vez como cineasta.
Mesmo que seja um tema bastante desafiador para os moldes engessados da Globo Filmes, Lázaro conseguiu de certa forma driblar o “conservadorismo” se juntando com Daniel Filho, um dos produtores do longa metragem, o qual já havia trabalhado com Lázaro no seu filme O silêncio da Chuva em 2019. Vale ressaltar que Daniel é um dos poucos cineastas do circuito comercial que ainda consegue fazer cinema de gênero com certo padrão de qualidade (são as raras exceções).
“Medidas Provisórias” é desafiador no sentido de ser uma historia passado no futuro distópico, ou melhor, não tão distópico assim. Coincidência ou não, o tema do racismo está cada vez mas em voga na indústria cinematográfica, não só no Brasil, como de um modo geral. A negritude ganha espaço e voz a cada dia que passa. Essa voz que muito bem poderia transformar em grito em Medidas provisórias, acaba caindo por terra numa trama engessada e com pouca ousadia. Lazaro teve tamanha coragem, só que sua coragem bateu na trave e por pouco não fez um gol, faltou um tiro de meta para esse grito ecoar aos ventos.
Antes de tudo, preciso situar do que realmente trata Medidas provisórias. No futuro, o governo decreta uma medida provisória a lá Handmaid’s Tale, para reparar o erro de um passado racista na época da escravidão, oferecendo aos negros, ou melhor, aos que possuem melanina acentuada que pudessem ir para África para descobrirem suas origens.
Medida essa que transforma o governo numa alma boa e caridosa, só que na verdade o que fica subtendido na trama é que essa passagem para uma suposta África, não passa de mero projeto de manter a cidade limpa, uma cidade que tem como objetivo de ser dominado por uma supremacia branca. Muitos sonham com a ilusão de que o governo se redimiu de seus atos, enquanto outros lutam e resistem firmes e fortes para não cair nas armadilhas do governo.
A trama por si só já é ousada, mas o problema é filmar um tema polemico de maneira didática e engessada, caindo nos enquadramentos clichês e usando metáforas com empobrecimento visual, nas cenas que os personagens brancos tomam café preto, ou comem um sorvete preto, ditando frases obvias do preconceito racial que acaba caindo no humor para atrair publico.
Personagens de Adriana Esteves e Renata Sorrah esbanjam diálogos sofríveis, do tipo “não sou racista não, estou fazendo apenas o meu trabalho”, parecendo um folhetim das nove.
Existem bons momentos na trama, como na tensão dos ataques das policiais a caça aos melaninas acentuadas e o final com a presença dos negros nas ruas ao som de Elza Soares. Nesses dois momentos Lazáro soube ousar um pouco com os enquadramentos e também na sua mensagem final que lembrou pouco os filmes do Spike Lee.
Mesmo assim a tensão poderia até ganhar mas corpo, só que o problema que faltou química entre os personagens principais, distanciando do publico ao invés de aproxima-los.
A sua primeira vez como cineasta, Lazaro conseguiu problematizar uma situação com um filme reflexivo e muito importante para os tempos atuais.Curioso para ver futuros trabalhos do Lazaro, menos engessado, até porque teve sua saída da rede Globo e agora se aventurar no streaming da Amazon.
Crítica por: Luiz Fernando Treviso
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