Crítica: Yellowjackets

"YELLOWJACKETS" - 2021

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Uma série que mistura a história de um time de futebol feminino que sofre um acidente de avião, drama de sobrevivência na selva e reencontro de amigas de colégio depois de 25 anos. Tudo isso com pitadas de fantasia com muito humor negro num clima de suspense e mistério com cenas de horror puro. 

Alguns poderiam dizer que se trata de uma mistura entre “Malhação" e “Lost" com elenco predominantemente feminino. No entanto, esse pequeno detalhe de colocar as garotas em evidência num drama de sobrevivência faz toda a diferença. Existe um clima de cumplicidade e competição a todo momento e por qualquer coisa, narrativa que poderia parecer descabida ou forçada num filme com personagens masculinos, pois estes costumam enterrar e entubar todos os seus sentimentos e temores, que acabam por se resolver ou pelo menos extravazar através da simplória violência física, sem dar espaço para todos os nuances e reviravoltas labirínticas que o universo feminino permite. 

Na história acompanhamos dois momentos distintos nas vidas desses personagens, a rotina no colégio das garotas que fazem parte da tal equipe das jaquetas amarelas do time de futebol, com suas intrigas e descobertas de adolescentes seguida do acidente de avião com muitas vítimas. O segunda narrativa temporal acontece 25 anos após o fatídico acidente, onde algumas dessas garotas sobreviveram e escondem um perigoso e estarrecedor mistério.

Na primeira temporada, temos como protagonistas Shauna (Sophie Nélisse excelente) como a adolescente inteligente e retraída, Jackie (Ella Purnell) como a capitã do time e eterna rainha do baile, Taissa (Jasmin Savoy Brown) como uma impiedosa atacante lésbica, Natalie (Sophie Thatcher) como a rebelde romântica e drogada e a inesquecível Misty (Samantha Hanratty) como a transloucada nerd psicopata.

Todas elas estão tentando sobreviver em meio a uma selva fechada após o acidente na companhia de Travis (Kevin Alves) e Javi (Luciano Leroux) que são os filhos do treinador que morreu no acidente e Ben (Steven Krueger) o auxiliar técnico do time que teve a perna amputada.

Aos poucos vamos descobrindo a dinâmica do grupo e suas reações quando defrontadas com os mistérios que rondam a florestas e as premonições da estranha Lottie (Courtney Eaton), outra sobrevivente do acidente que parou de tomar seus anti-psicóticos. Com uma tripulação com tantos personagens enlouquecidos, o avião não poderia ter outro destino. Brincadeira.

No entanto, o verdadeiro chamariz da série está na narrativa contemporânea, onde acompanhamos as sobreviventes adultas. Agora temos uma Shauna (Melanie Lynskey fabulosa) como dona de casa frustrada e casada com o ex-namorado da melhor amiga, Jeff (Warren Kole) e mãe da intempestiva Callie (Sarah Desjardins). Taissa (Tawny Cypress) se casou com Simone (Rukiya Bernard) e concorre a uma vaga do senado de seu estado. Natalie (Juliette Lewis irreconhecível) acabou de sair da reabilitação e se depara com a morte de seu antigo namorado. Além é claro de Misty (Christina Ricci impagável) como uma adorável enfermeira sádica e psicopata. 

As duas narrativas caminham paralelamente sempre envoltas sob o mistério da sobrevivência das garotas na selva. Uma trama paralela sobre uma chantagem sobre o misterioso segredo movimenta a maior parte da primeira temporada com uma resolução surpreendente. 

Independente de para onde a trama nos leve ao revelar o tal segredo trancafiado a quatro chaves, acompanhar essas deliciosas personagens interpretadas por essas incríveis atrizes já vale o percurso. Acredito que “Lost" tenha sido uma revolução na TV há duas décadas atrás, mas acho injusta a comparação entre as duas tramas. Se para alguns espectadores o grande chamariz para engajar e fidelizar o público seja o mistério e a nostalgia dos anos 90, para mim a construção de personagens complexos dentro desse nebuloso universo feminino é o que mais me chama atenção, mesmo que tenha um “que" de pasteurização hollywoodiana.

Crítica por: Fabio Yamada.

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