Crítica: Solos

"SOLOS" - 2020

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Um grande projeto de série que se aproveita do momento da pandemia e isolamento social para discutir questões existencialistas, as quais somente paramos para observar em um momento como esse. Um elenco fabuloso de estrelas como Anne Hathaway, Helen Mirren, Morgan Freeman e Uzo Aduba entrando em contato com seus medos, desejos e frustrações por intermédio da tecnologia de hoje ou de um provável amanhã. 

Dizendo assim, dá água na boca para assistir a produção, uma espécie de Black Mirror construído através de monólogos de grandes estrelas, no entanto, o projeto naufraga totalmente no que teria que ter de melhor, que é justamente o roteiro.

David Weil, o criador e roteirista da série, realmente tem um premissa interessante nas mãos e tenta se utilizar do momento em questão para discutir temas importante, que teoricamente se conectariam com cada um dos espectadores isolados em sua casa.

No primeiro, episódio temos Leah (Anne Hathaway) como uma física que literalmente se desdobra em tela para viajar com a finalidade de salvar a mãe ou a si mesma. No episódio seguinte, somos apresentados a Tom (Anthony Mackie) que tem sua primeira converso com seu clone andróide que o substituirá após sua morte. No terceiro episódio, Peg (a maravilhosa Helen Mirren) embarca em uma solitária viagem espacial sem volta em busca de si mesma, tendo como companhia apenas a voz de Zen (Jack Quaid), uma inteligência artificial que acaba por valorizar as vivências e arrependimentos de sua única passageira passageira. No mais perturbador episódio, temos Sasha (Uzo Aduba) como uma mulher enclausurada em sua casa inteligente durante 20 anos devido a uma pandemia, o interlocutor tenta convencer a última pessoa enclausurada e isolada do fim da pandemia sem sucesso, pois ela inventa todas as desculpas para se manter distante do mundo. No episódio mais fraco, temos Jenny (Constance Wu) como uma mulher infeliz no casamento que sofreu um aborto e não consegue se conectar com ninguém a sua volta. Em um episódio confuso, Nera (Nicole Beharie) dá a luz sozinha em casa devido a uma nevasca, mas suas lembranças se confundem com o crescimento acelerado do filho que acabou de nascer. Finalmente, no último e mais aguardado episódio, Otto (Dan Stevens) visita o desmemoriado Stuart (Morgan Freeman) em um asilo e decide ajuda-lo a recuperar suas memórias, memórias estas que se conectam de maneira solta e decepcionante com as outras histórias.

Como já disse no início do texto, a premissa da série realmente é boa, o elenco fantástico, mas peca na realização. A curta duração de vinte minutos de cada episódio, que em tese deveria dar dinamismo a história consegue se arrastar aos olhos do espectador. O brilho de cada estrela em tela vai se apagando aos poucos conforme a história se passa, com exceção de Helen Mirren que consegue emocionar o espectador do começo ao fim. 

Um produto que tinha o timing perfeito para fisga seu público alvo, ou seja cada um de nós isolado em sua casa, consegue afasta-lo, justamente por não conseguir se conectar à ele. A ironia dessa história é que seja esse justamente o tema da produção fazer com que o espectador desperte para necessidade de se conectar com o próximo através dos relatos de cada personagem que se encontra isolado e sozinho na tela.

O uso da tecnologia que deveria potencializar e dialogar com esses personagens de um futuro ou presente distópico acaba por servir apenas de pano de fundo em alguns episódios e em outros apenas para construir um plot-twist decepcionante. Acredito que a idéia desse projeto Solos fosse nos confrontar com nossos pensamentos sobre a necessidade e os valores em viver em sociedade, mas a única coisa que a série conseguiu me passar foi a vontade de desligar a TV e ficar com minhas próprias lembranças e problemas, sem  mínima vontade de me envolver com as frustrações dos outros que se mostram tão ou mais loucos do que eu mesmo.

Crítica por: Fabio Yamada.

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