"PROFECIA DO INFERNO" - 2021
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A nova série coreana de terror criada por Yeon Sang-ho, o diretor do sucesso mundial “Train to Busan” de 2016, que revolucionou os filmes de zumbi ao colocar quase que todos os acontecimentos dentro dos corredores e trilhos de um trem.
Se “Round 6” já fora um sucesso, essa mistura de filme policial com terror sobrenatural e toques de crítica social é quase que a receita perfeita para estar na trilha rumo ao sucesso com o grande público. A série já começa aterrorizando com cenas em plena luz do dia de três criaturas demoníacas percorrendo sua vítima pelas ruas engarrafadas de Seul, com direito a ultra-violência gráfica e jatos de sangue. O público e os transeuntes nas calçadas e dentro dos carros assistem paralisados o massacre do personagem previamente condenado ao inferno, que após ser trucidado pelas “coisas" do inferno entra em combustão induzida. Os metamorfos de escamas negras desaparecem em um processo de sublimação deixando para trás apenas uma carcaça fumegante, daquele que um dia fora um ser humano.
Dá-se início a série com dois arcos narrativos distintos compostos por três episódios cada que são interligados pela intersecção de alguns personagens dentro do mesmo universo que aterroriza a capital coreana. Neste primeiro arco temos três personagens principais, cujas as histórias se cruzam devido a um acontecimento principal. O primeiro personagem é Jin Kyung (Ik-joon Yang), um detetive que cuida de sua filha Hee-jeong (Re Lee) e sofre por um trauma do passado, sua esposa foi assassinada e o criminoso foi libertado. A segunda personagem principal é a advogada Min (Hyun-joo Kim) que trabalha defendendo clientes vítimas da organização Arrowhead que divulga a identidade de suspeitos de crimes antes de suas condenações, além de cuidar da mãe com câncer terminal. O terceiro personagem é Jung Ji (Yoo Ah In), o presidente de uma seita chamada Nova Verdade que afirma que os seres monstruosos são anjos divinos que tem a missão de punir os pecadores e encaminha-los ao inferno. As histórias desses três personagens se cruzam quando Park Jeong (Shin-rok Kim), uma mãe solteira de duas crianças recebe a mensagem de que será punida e conduzida aos portões do inferno.
No segundo arcos, a seita Nova Verdade já se disseminou e tomou conta de toda a cidade. Surgem novos personagens como Bae Young (Park Jung Min), um publicitário que trabalha em uma agência de TV e fica responsável pela produção de comerciais da seita, que acabou de se tornar pai. A seita agora é comandada por um novo e mais cruel presidente, tendo como membro em ascensão Jun (Harrison Xu), um jovem ingênuo e facilmente manipulável. Além do retorno da personagem Min Hye que agora comanda uma associação clandestina chamada Sodo, que combate a seita religiosa camuflando os episódios de punição, escondendo a identidade de suas vítimas e protegendo suas famílias. As histórias destes três personagens se cruzam quando Bae Young descobre que seu filho recém-nascido será punido e levado para o inferno dentro de quatro dias.
Se incialmente a trama apresenta alguns (ou muitos) elementos clichês, como o detetive traumatizado, a seita maligna, uma massa de expectadores manipuláveis e um vilão inteligente que seque a letra o ditado “os fins justificam os meios”. Os pontos extraordinários da série estão nos detalhes, além é claro de ser uma produção de grande apuro técnico com ótimos efeitos especiais, um thriller de ação e suspense competente com um elenco afinado e um roteiro com maravilhosos plot-twists.
As pequenas idéias lançadas sobre como as histórias podem ser distorcidas criando novas narrativas, o poder a partir do medo, a volatilidade daquilo que pode ser visto como pecado, a idéia de que todos somos sempre culpabilizáveis de alguma forma ou de algum ponto de vista, afinal somos todos pecadores.
A idéia de que estamos a todo momento tentando colocar algum tipo de ordem no caos. Justificar ou decodificar acontecimentos para que estes caibam em nossas narrativas de vida. Uma tentativa em vão de garantir a manutenção da ordem que justifique o encadeamento dos eventos criando algum senso de justiça ilusória. Nós recorremos constantemente a ciência, a história, as religiões, a mitologia e as artes para construir um arcabouço que amparem nossas ações e assegure estilos de vida. Acreditamos piamente que o mundo ou a vida tem algum tipo de dívida com a nossa existência, devendo compulsoriamente garantir algum tipo de ordem inteligível e aceitável no caos que é o universo.
Uma série imperdível coreana, depois que começamos assistir torna-se impossível parar, apesar do diretor insistir em massacrar e aniquilar o expectador assim como os anjos demoníacos punem suas vítimas. Todo processo de iluminação exige algum tipo de perda física e a mesma luz que cega pode ser aquela que te guia na escuridão. Quando deixarmos de culpar os outros e pararmos de elaborar teorias que nos isentem da nossa responsabilidade talvez consigamos apreender que a grande maior parte das coisas acontecem por puro acaso.
Crítica por: Fabio Yamada.
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