Crítica: O Homem Ideal

"O HOMEM IDEAL" - 2021

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Um filme aparentemente despretensioso, essa comédia romântica que é o concorrente alemão para o Oscar de Melhor Filme Internacional. Já assistimos vários filmes sobre a interação amorosa entre homens e robôs ou Inteligências Artificiais, desde a incrédula e inocente andróide de “Blade Runner” de Ridley Scott, passando pela sedutora voz de “Her” de Spike Jonze e pela femme-fatale de “Ex-Machina” de Alex Garland e retornando para o comovente holograma de  “Blade Runner 2049” do fabuloso Denis Villeneuve. Isso sem falar nos audaciosos “Titane" de Julia Ducournau, “Jumbo" de Zoé Wittock e “Carro Rei” de Renata Pinheiro. Interessante observar que estes três últimos e o “I'm Your Man” sejam todos dirigidos por mulheres, alguns até poderiam dizer que se trata de um fetiche feminino, mas vou mais além, elas realmente são mais audaciosas.

A história do filme se inicia em um aparente salão de dança onde Alma (Maren Eggert) acaba de conhecer Tom (Dan Stevens), após uma inusitada conversa inicial, o sedutor Tom começa a balbuciar algo ininteligível. Entra em cena a coordenadora do projeto (Sandra Hüller) que se encarrega em dizer para Alma que os defeitos do andróide logo serão corrigidos.

Ao passar das cenas descobrimos que Alma trabalha no Altes Museum em Berlin com a tradução de línguas Sumérias impressas em pedras. Ela aceitou participar do tecnológico projeto de amante ideal, para custear os gastos com seu projeto de estudo, onde através de algoritmos baseados nas informações, experiências e memórias da cliente é construído o amante ou a amante ideal.

Alma aceitou conviver com o protótipo Tom durante três semanas, sem o menor interesse romântico, apenas para fornecer dados que levariam a liberação do novo produto tecnológico no mercado, além de estipular normas de convivência e consumo entre comprador e produto.

Tom foi construído e programado para satisfazer todas as vontades, desejos e demandas que Alma necessita, inclusive aquelas que fazem parte de nosso inconsciente. Ela se recusa a ceder as investidas amorosas do andróide que tem uma tarefa hercúlea para tentar seduzir ou pelo menos ser aprovado no teste de sua tutora. 

Como esperado, Tom acaba se revelando muito mais humano do que a pouco espirituosa Alma, enquanto ela acaba se tornando cada vez mais robótica ao resistir as investidas incisivas do andróide.

As belas e surpreendentes reações de Tom consegue transformar a trama em uma investigação muito mais humana e honesta sobre as expectativas com as quais lidamos com nossos sonhos e desejos. Coisas que aparentemente seriam ininteligíveis para uma máquina pela nossa tosca concepção acabem se revelando bem menos complexas aos olhos ou raciocínios límpidos do tal programa de computador, surpreendendo até o expectador mais cético.

Ao final, após algumas revelações do passado de Alma, temos um filme tocante e que não oferece exatamente aquilo que o expectador tanto deseja, assim como Tom também não satisfaz todas as demandas que tanto Alma deseja para atingir a tal efêmera e fugaz felicidade. O que tanto o andróide quanto o filme conseguem criar é um simples pensamento de que a nossa  tão almejada felicidade não depende de conseguirmos exatamente o que tanto desejamos, mas sim da esperança de que vamos continuar acreditando que algum dia poderemos ser felizes.

Crítica por: Fabio Yamada.

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