"O ESTRANHO CASO DE ANGÉLICA” - 2010
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O cinema do falecido cineasta português Manoel de Oliveira é caracterizado por questões existenciais. Este filme produzido em conjunto com o também falecido Leon Cakoff não foge dessa linha de cinema.
A premissa da história é relativamente simples um jovem fotógrafo Isaac (Ricardo Trêpa neto de Manoel Oliveira) viaja até uma vila (Quinta das Portas) para fotografar uma jovem defunta chamada Angélica (Pilar López de Ayala). Isaac começa a apresentar estranhos comportamentos que envolve anorexia, alucinações, um irritação com os pássaros da dona da pensão onde está hospedado e visitas noturnas ao cemitério.
Tudo evoluiu lentamente com uma atmosfera que navega entre o onírico e o mistério, a fantasia e a farsa. Nunca sabemos exatamente onde estamos, se num sonho de Isaac, se no mundo espiritual, na loucura de um homem apaixonado por uma morta ou caminhando para o sobrenatural.
Não espere respostas sobre essas questões, pois afinal quem tem essas respostas? Acredito que a imaginação de um cineasta centenário consegue caminhar por esses trilhos sem ansiedade, acreditando que o grande prazer de tudo na vida reside exatamente na dúvida, no incerto, no inconsistente.
O ato de Isaac se apaixonar pela Angélica morta, por seu espírito ou pela imagem da fotografia são metáforas para o amor ao cinema, a imagem. Afinal, quando nos apaixonamos, estamos apaixonados pela essência de uma pessoa? Sua imagem? A imagem que criamos dessa pessoa? Por seu espírito? Por seu corpo? Por uma lembrança? Onde esta o objeto do meu verdadeiro afeto, que por vezes já partiu.
Nesse filme, em alguns momentos, não sabemos exatamente em que época estamos. Alguns objetos e cenários antigos misturados com máquinas modernas. Talvez isso não seja tão importante para o diretor. Um filme lindo sobre a efemeridade da matéria e a eternidade de um sentimento. Afinal o que fica depois de tanto tempo?
Crítica por: Fabio Yamada.
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