Crítica: The North Water

 "THE NORTH WATER" - 2021

🔑🔑🔑🔑



Uma daquelas minisséries da BBC de encher os olhos tanto pela bela produção quanto pelo conteúdo ousado para uma história de época baseado em um livro de Ian McGuire publicado em 2016 mas cuja a trama se passa em 1850.

A produção que possui cinco episódios de uma hora de duração cada, consegue nos apresentar uma visão mais realista do que seria viver em uma grande cidade do século XIX, com toda sua imundície e violência, nada muito glamourizado com muita pouca higiene. Disseca a maldade, a ambição e o vício de todos os personagens de forma visceral com cenas chocantes, demonstrando como poucos que essas características acompanham a humanidade desde sempre e que provavelmente nunca a abandonará.

Na história, somos apresentados logo de cara para os dois protagonistas que aparentemente estão de lados opostos, Sumner (Jack O’Connell fantástico) como um médico ambicioso expulso do exército e viciado em láudano e o marinheiro assassino Drax (Colin Farrell sempre competente) que não faz nenhuma questão de esconder sua imundície seja física ou moral.

Ambos embarcam em um mesmo navio baleeiro rumos as tais águas do norte, mais exatamente para o Estreito de Lancaster no Ártico, sob o comando de Brownlee (Stephen Graham), o capitão misterioso do barco. Ele junto com seu subalterno Cavendish (Sam Spruell) planejam um outro destino para o barco que não somente caçar baleias e focas, que lhe renderá uma grande quantia de dinheiro, mesmo que para tanto tenham que arriscar a vida de todos os tripulantes. 

Nessa viagem rumo ao Ártico e suas belíssimas paisagens de geleiras brancas tingidas com o sangue de suas vítimas, a tripulação demonstra o que pior existe na humanidade, assassinatos, intrigas, estupros e violência, tudo isso regado à muito álcool e um pouco de láudano.

Ao mesmo tempo em que os atos de Drax o aproximam de demônio, o nosso bom médico tenta se redimir de seus arrependimentos de quando fazia parte do exército britânico durante as guerras de independência da Índia. Inevitavelmente, quanto mais o barco se afasta do resto da humanidade, os personagens vão se tornando cada vez mais desumanos, sejam na capacidade de sobreviver a eventos adversos, a falta de empatia em relação ao próximo ou a capacidade em acreditar no sobrenatural.

Enquanto, Drax revela suas peculiaridades sem nenhum escrúpulo para seu novo amigo Sumner, o personagem do médico vai sofrendo uma grande transformação interna e externa, sendo responsável pelas cenas mais terrivelmente belas da produção. Impossível não se horrorizar e ao mesmo tempo se emocionar com a cena do urso polar.

Aguardamos ansiosamente pelo embate final entre os dois protagonistas cada vez mais semelhantes, no entanto, o que temos são uma fuga improvisada de Drax por meio de dois esquimós e o encontro de Sumner com um padre (Peter Mulan) em pleno pólo norte tentando evangelizar os inocentes esquimós.

A história nos reserva esse esperado reencontro, mas agora em uma paisagem mais urbana, fazendo perder um pouco da força narrativa da história e o potencial das imagens gélidas e claustrofóbicas da imensidão branca. O final da série não compromete essa belíssima viagem ao coração das trevas congelantes de nosso querido doutor revelando toda a beleza da violência em meio a feiura, podridão e decadência humana.

Crítica por: Fabio Yamada.

Comentários