Crítica: Muito Amadas

"MUITO AMADAS” - 2015

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Um filme polêmico que retrata de forma direta e honesta a vida de prostitutas no mundo árabe. O filme foi um escândalo durante sua exibição no Festival de Cannes, gerando ameaças de morte ao diretor e a atriz que protagoniza o filme.

O filme retrata a vida de quatro prostitutas que vivem em Marrakech, no Marrocos, um país islâmico, conhecido por leis e costumes que reforçam a submissão feminina e restrição dos direitos das mulheres. As mulheres geralmente não podem nem sair desacompanhadas de casa, imaginem o preconceitos em relação as prostitutas. No entanto, os homens árabes são livres para usarem e abusarem delas. Outro aspecto marcante do filme é em relação ao abuso do uso de álcool e drogas, extremamente proibido pela religião muçulmana. 

Alguns vão dizer que o diretor tem um olhar de exploração do corpo feminino (das atrizes). No entanto, estamos falando sobre prostituição, não tem como não mostrar esse lado de exploração por partes dos clientes. A força do filme não está nesta exploração e nem na exposição de corpos nus. A força está na naturalidade e na falta de pudor com que essas mulheres tratam a prostituição. O diretor isenta as protagonistas de um julgamento moral, retratando a prostituição com uma escolha diante de uma realidade extremamente dura, uma forma de ganhar dinheiro para sustentarem suas famílias. 

O diretor aborda vários temas tabus, como a exploração de uma relação abusiva, a maternidade não desejada, agressões físicas, abuso infantil, a transexualidade e o homossexualismo. Tudo é construído de forma real e orgânica, sem forçar a barra. 

Cada um dos personagens femininos é construído de forma complexa, mostrando várias facetas. Elas são mulheres que dançam e transam,  mas que além disso tem sonhos, desejos, sentimentos e posições políticas. Elas têm voz, sobrevivem e estabelecem relações entre si fora do holofote masculino. Não são personagens planos que representam prostitutas, são mulheres que se prostituem, mas que não deixam a profissão defini-las como pessoa.

Um filme que consegue ser extremamente feminista e humanista, mesmo abordando um tema como prostituição feminina. Somos apresentados a uma outra face do islamismo e a uma paisagem marroquina que passa longe da atmosfera romântica de outros clássicos do cinema.

Crítica por: Fabio Yamada.

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