"MORANGO E CHOCOLATE” - 1994
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Um dos filmes mais importantes da cinematografia cubana e um dos seus maiores sucessos comerciais.
O filme foi produzido em 1994, mas a história se passa em 1979. Na história temos dois personagens principais, Diego (Jorge Perugorría fantástico), um homossexual mais velho e culto que tenta seduzir David (Vladimir Cruz) um jovem estudante heterossexual e entusiasta dos valores da Revolução Cubana. A princípio esse jogo de sedução fracassa, mas não impede que os dois personagens se aproximem e criem laços de afeto fraternal.
É sabido e documentado, a perseguição do regime de Fidel Castro contra homossexuais, mais pelo aspecto machista da sociedade cubana do que pelos princípios libertários da revolução. Os diretores Tomás Gutiuérrez Alea e Juan Carlos Tabío criam uma história que condena o preconceito e a perseguição a Diego, no entanto, não assumem uma posição contrária a revolução cubana. Através dos diálogos e ações, percebemos que toda revolução libertária vai apresentar aspectos repressores e negativos, mas nem por isso devemos fechar os olhos para as benesses que o regime proporcionou a maior parte da população cubana.
A metáfora com o sorvete de morango e chocolate tenta simbolizar essa combinação, que por vezes pode parecer inconciliável, mas que não devemos deixar de lutar por ela. Não precisamos excluir totalmente um lado, para fundamentar o outro. É preciso, sempre valoroso e vantajoso que se exista um diálogo mais plural.
Muitos na época imaginaram como conseguiram realizar um filme contra o regime de Fidel Castro. Mas se formos analisar, o filme tem algumas críticas ao regime, fala sobre homossexualidade, mas tem muitos outros temas também, como o mercado negro, a santeria, posse ilegal de dólares a expansão da revolução para outros países latinos. O filme traça um grande painel sobre a sociedade cubana, além de expressar um retrato sensível sobre a amizade entre dois homens, que tem posições políticas contrárias, mas nem por isso perdem sua humanidade.
Atualmente, alguns podem pensar que por se tratar de um regime ditatorial de esquerda, que existiria uma tolerância em relação a homossexualidade. Uma visão extremamente preconceituosa e restrita sobre o mundo, como se todo homossexual fosse de esquerda, que não existissem gays com pensamentos conservadores e capitalistas. Uma coisa é a posição política individual, outra é a orientação sexual, e esse fatores são independentes e não mutualmente excludentes.
Um filme de trinta anos atrás que consegue discutir e estabelecer um diálogo entre dois homens de posições políticas e sexuais contrárias. Mostrando que é possível reconhecer a humanidade do outro. Coisas tão simples e primordiais que infelizmente não conseguimos concretizar na sociedade brasileira atual.
Crítica por: Fabio Yamada.
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