"MONSTERLAND" - 2020
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Uma incrível e menosprezada série antológica do canal de streaming Hulu, que tenta traçar um paralelo entre os monstros que habitam nossa imaginação e os comportamentos monstruosos que germinam dentro nós mesmos incentivados pela nossa sociedade.
A maioria do público e crítica torceu o nariz para a série criada por Mary Laws responsável pelo roteiro da aclamada “Succession" e pelo malfadado “Demônio de Neon”. Cada um dos oito episódios foi dirigido por diferentes diretores, que apresentaram uma visão bem pessoal de seus medos e monstros.
Alguns críticos citam a falta de unidade da produção, cujo o único ponto de intersecção pode ser expresso através da presença meio que pontual da protagonista do primeiro episódio, na pele de Toni (Kaitlyn Dever excelente), que é uma garota mãe-solteira obrigada a abandonar seus sonhos adolescentes devido a uma gravidez indesejada, que resultou na desequilibrada e instável Jack (Charlotte Cabell e Vivian Cabell), uma espécie de mini-psicopata. A visita de uma entidade que roubas as identidades e peles de suas vítimas reascende uma luz de esperança na vida da infeliz garçonete.
No segundo episódio, conhecemos outro personagem nada afortunado, Nick (Charlie Tahan), um garoto que é obrigado a largar a escola para trabalhar e cuidar de sua mãe vítima de uma doença neurológica após seu pai abandonar a família. Após vislumbrar uma sombra na parede de sua casa, Nick faz amizade com um grupo virtual que o incita a realizar atos terroristas e violentos contra a tal sombra enegrecida que insiste invadir sua casa.
No terceiro episódio, Annie (Nicole Beharie) acompanhada de seu filho pequeno se vê obrigada a embarcar em uma nova relação amorosa com o Dr. Joe (Hamish Linklater). Um episódio durante uma festividade de rua em New Orleans, faz com que a criança revele ter sido atacada e perseguida por um monstro que queria devora-la. Anos depois, um escândalo sexual envolvendo as pacientes do renomado doutor traz a tona a identidade do verdadeiro monstro na vida de Annie.
Em todos os episódios, estão presentes o elemento sobrenatural e suas supostas vítimas, criando uma atmosfera de suspense e mistério. No entanto, o que realmente assombra o espectador é o comportamento e as ações que os protagonistas realizam contra os outros ao seu redor como forma de reação ao sofrimento que a sociedade inflige a ele ou como contra-ataque os monstros que habitam sua realidade. Os monstros muitas vezes podem surgir em decorrência a esses sofrimentos ou apenas efeitos colaterais de suas escolhas, eles podem ser reais ou apenas frutos de sua imaginação, podem ser usados como desculpas para a falta de ética, moral ou empatia dos personagens principais.
Uma verdadeira pérola em meio às produções do gênero que consegue dialogar perfeitamente com o momento no qual nossa sociedade se encontra, onde qualquer coisa é desculpa para atacar o outro ao seu lado, todos se veem no direito de expressar suas opiniões mesmo que agridam o próximo, tudo que é diferente de sua realidade é considerado exótico ou monstruoso e principalmente a culpa é sempre do outro, sem nunca ninguém assumir as responsabilidades de seus atos e suas escolhas.
Cada um de nós temos os nossos medos internos, rotulamos os defeitos ou características dos outros como verdadeiras monstruosidades, espalhamos boatos e mentiras criando verdadeiros abismos a cada esquina, mas tornamos cada vez mais incapazes de enxergar os monstros que nos tornamos ao fazer isso.
Crítica por: Fabio Yamada.
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