Critica: La Révolution

"LA RÉVOLUTION" - 2020

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Uma série francesa exibida no Brasil pela Netflix que relaciona as origens da histórica Revolução Francesa de 1789 com o surgimento de morto-vivos em meio a nobreza de uma pequena cidade nos arredores de Paris.

A bela produção de Aurélien Molas e Gaia Guasti transparece ares de superprodução com uma bela reconstituição de época, cenário e figurinos esplêndidos, uma magnífica fotografia e um elenco afinado. No entanto, não espere uma aula de história sobre a famosa revolução, estamos no terreno totalmente fictício nessa obra.

A história começa com o assassinato hediondo de uma jovem camponesa que tem o corpo parcialmente devorado. Uma narração em off insiste em reforçar a idéia de que os personagens anônimos dessa inesquecível revolução jamais devem ser esquecidos, colocando esse evento como estopim dos acontecimentos que se desenrolarão à frente, culminando com a Queda da Bastilha e a decapitação do rei.

A idéia de relacionar acontecimentos históricos com uma mistura de fantasia com toques de sobrenatural é sedutor para qualquer autor, mas isso já vem acontecendo desde a época de Alexandre Dumas que escreveu na primeira metade do século XIX, “O Conde de Monte Cristo”, “Os Três Mosqueteiros” e “A Rainha Margot”. 

As metáforas criadas pelos autores podem soar grosseiras, afinal uma trupe da nobreza de mortos-vivos que se alimentam literalmente das carnes da população miserável, uma doença que além de dar poderes sobrenaturais aos enfermos, força descomunal e sentidos super-aguçados, além de garantir aos seus portadores a imortalidade através do sangue azul, com o único inconveniente deles terem de se alimentar com carne humana.

Um personagem real que acaba sendo inserido na trama é Joseph Guillotin (Amir El Kacem), o inventor da guilhotina, mas que na trama acaba sendo um médico da prisão local que resolve investigar mais a fundo o assassinato da garota mutilada. A polícia acaba por condenar sem julgamento Oka (Doudou Masta) pelo assassinato, um imigrante africano. Joseph desconfia dos interesses políticos envolvidos e começa a investigar por conta o crime, descobrindo que ocorrera muitos outros desaparecimentos de garotas camponesas que nem chegaram a ser investigados.

A investigação do jovem médico o coloca em meio a uma disputa política entre a nobreza local representada por Charles de Montargis (Laurent Lucas) e seu filho Donatien (Julien Frison) e os rebeldes que planejam uma revolta, representados por Marianne (Gaia Weiss) e Albert (Lionel Erdogan) que literalmente acabou de retornar dos mortos.

Em meio a tudo isso, temos ainda Elise de Montargis (Marilou Aussilloux), a verdadeira herdeira do trono em vista que seu pai, o conde está desaparecido. Elise nutre uma verdadeira simpatia pelo povo usurpado pela nobreza e foi amante de Albert há muito tempo atrás. Elise tem uma irmã mais nova Madeleine (Amélia Lacquemant) que é atormentada por estranhas e sombrias visões que prenunciam um futuro aterrador.

Independente das liberdades inconsequentes assumidas pelo roteiro com a finalidade de construir metáforas de fácil deglutição, a série consegue entreter e encher os olhos com suas belas imagens criadas. O apuro técnico da produção chama a atenção e a direção de arte é responsável por criar imagens belas e assustadoras ao mesmo tempo, seja no cativeiro das vítimas dos nobres mortos-vivos ou na batalha final entre os de sangue azul e os de sangue vermelho, construindo uma linda referência em relação as cores da bandeira francesa. O final fornece a promessa de mais uma temporada com a garantia de muito mais sangue derramado, seja ele vermelho ou azul.

Crítica por: Fabio Yamada.

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