"FATORES HUMANOS" - 2021
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Um filme com a história sobre uma família que viaja para uma casa de veraneio. A casa sofre uma invasão que modificará para sempre os rumos das vidas de cada um dos membros dessa família. Parece que a gente já viu esse filme. Alguns críticos realmente traçaram um paralelo entre a história aqui contada e o famoso filme que o diretor austríaco Michael Haneke filmou duas vezes “Violência Gratuita”.
No entanto, apesar de que o diretor italiano Ronny Trocker também realizar uma profunda crítica social em seu filme e para tanto se utilizar de uma espécie de suspense psicológico com direito a truques de edição, os resultados e objetivos de ambos os diretores não poderiam ser mais diferentes.
Aqui temos uma família composta pelo pai Jan (Mark Waschkle), a mãe Nina (Sabine Timoteo), a filha adolescente Emma (Jule Hermann) e o filho Max (Wanja Valentin Kube) que viajam para um balneário na França. O casal trabalha com publicidade a aparentemente realizou uma viagem fora de época, durante um final de semana, justamente para fugir de incidentes relacionados a uma campanha política a qual a agência assumiu.
Jan decide realizar compras num mercado próximo para abastecer a casa e ao retornar acaba se deparando com um cenário da casa pós-invasão, onde Nina machucou o rosto na porta, o animal de estimação de Max desapareceu e Emma encontra-se ilesa.
A reconstrução dos fatos abordados pelos diferentes pontos de vista de cada um dos personagens a partir do incidente da invasão expressa de forma veemente os mais variáveis erros de comunicação e idéias preconcebidas que tanto o espectador quanto os próprios personagens podem ter um do outro, além é claro as consequências dessas conclusões fundamentadas ou não em fatos ou dados, os quais nunca poderemos confirmar a veracidade.
Dentro da sociedade atual, as informações que circulam nos meios de comunicação podem ter sua veracidade contestada de várias formas diferentes. Um fato aparentemente corriqueiro pode expressar várias verdades a depender do ponto de vista, afinal ninguém tem acesso ou controle onipresente dos acontecimentos. Até mesmo uma imagem vista por nossos próprios olhos pode ter várias interpretações a depender do tal fator humano ou ponto de vista.
Não estou defendendo de forma alguma nenhum tipo de fake news ou mentiras deslavadas com a intenção de gerar o caos ou difamar algum indivíduo. Estou apenas expressando a idéia de que cada fato proferido sempre passará pelo filtro de quem a conta e a forma como a qual ele chegará ao seu receptor dependerá da confiabilidade do interlocutor.
O ser humano é falho e os erros de comunicação sempre ocorrerão, mas se utilizar desse fato para disseminar mentiras vendidas com verdades é apenas mais um sintoma da doença que acomete nossa sociedade. Uma sociedade individualista, egoísta e hipócrita que se utiliza da exceção para afirmar seu ponto de vista, da liberdade de expressão para ofender os outros e do caos e da falta de informação para criar falsas teorias. Uma sociedade igual a essa se torna o cenário perfeito para a implantação de um universo virtual, tipo o Metaverso, onde cada indivíduo insatisfeito com a sua vida real, pode criar o seu próprio mundo regido por sua próprias leis e teorias.
A idéia de se colocar uma agência de publicidade como plano de fundo e uma campanha política como incidente incitante não é de graça. O ataque terrorista a agência podendo ou não ter relação com a suposta invasão a casa de veraneio também serve para manter uma atmosfera de suspense e apreensão. No entanto, a idéia de introduzir um mascarado no final, como meio de fuga para aqueles que tem suas aparentes verdades confrontadas, seus medos expostos ou seus desejos não atendidos é perfeita. Afinal sempre teremos aquela velha desculpa, enfiar a cabeça no buraco e dizer que não tomamos conhecimento ou a de que não fui eu ou, a pior ainda, a de que ninguém pode provar que tenha sido eu.
Crítica por: Fabio Yamada.
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