Crítica: Dear Evan Hansen

"DEAR EVAN HANSEN" - 2021

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A crítica massacrou a adaptação cinematográfica do musical teatral vencedor do Tony e do Grammy. No entanto, é quase que impossível não se surpreender com uma história que fez sucesso como musical com premissas como doenças psiquiátricas, suicídio e cujo protagonista engana uma família enlutada.

O diretor e roteirista Stephen Chbosky foi responsável com dois filmes que permeiam esse universo escolar problemático, “As Vantagens de Ser Invisível” e “Extraordinário”. No entanto, grande parte do público o acusou de reunir várias estrelas de Hollywood e transformar o drama musical no novo fracasso “Caminhos da Floresta” no meio escolar. Eu, pessoalmente, acho tudo isso um pouco de exagero, mesmo por que estamos falando de um musical que manteve o protagonista do teatro na adaptação para as telas, o magnífico Ben Platt, que além de saber cantar, possui um carisma inegável.

Na história, que já surpreende o público desde a primeira canção, percebemos que não se trata apenas de um produto tipo “Glee”. Os problemas do garoto Evan não está apenas no fato de ser invisível para seus colegas de escola ou de sofrer bullying de alguns garotos, mas sim tratar-se de um personagem sociopata com graves problemas psicológicos.

A brincadeira com a fatídica carta que Evan escreve para si mesmo que acaba sendo confundida com um bilhete suicida é perfeita, pois ela estando assinada apenas com o pronome “Eu" ou “Me”, acaba que funcionando como uma promissória ao portador, cujas as palavras podem ser portabilizadas a qualquer um de nós ou dos personagens “anonimamente" desequilibrados.

Tanto a carta de Evan quanto suas “amáveis" mentiras servem para preencher lacunas ou vazios que os personagens a sua volta necessitam preencher. Nada mais normal ou digno para um sociopata, que vive mentindo para si próprio, do que inventar desculpas e mentiras para deixar as pessoas menos culpadas e tornar suas vidas mais palatáveis, somos especialistas nisso. Afinal, se aceito que as mentiras podem ser um tipo de remédio para minhas dores, por que não prescrevê-las para todos a minha volta.

Alguns críticos ficaram irritados com as misturas entre músicas diegéticas e não-diegéticas, montagens entre falas discursivas e outras cantadas. No entanto, para um universo onde o protagonista é um mentiroso compulsivo, nada melhor do que brincar com essas duas linguagens. 

Não vou dizer que o filme é perfeito, está longe disso. No entanto, atrevo-me a dizer que fiquei fascinado com a ousadia do tema e que nunca havia assistido a um filme onde a mentira me parecera tão sedutora e compensatória. Eu realmente sou daqueles que acredita que a verdade pode ser um pouco supervalorizada as vezes e que apesar de a mentira ter pernas curtas, por vezes elas podem nos levar para bem longe de nossas dores. Alguns dirão, que a mentira nunca compensa e que um dia cairemos do cavalo sofrendo as consequências, mas quem nunca sofre nesse mundo?

Independente, do final reconciliador e politicamente correto, trata-se de mais um belo encontro entre duas divas, Amy Adams e Julianne Moore após o enfadonho “A Mulher na Janela”, outro filme sobre personagens mentalmente perturbados. Eu consigo me identificar muito com esses personagens desequilibrados que de tanto desejarem serem ouvidos acabam inventando uma vida inteira, sem nunca saber se estão cantando ou contando mentiras. Talvez, como na canção o meu hoje ainda não esteja tão perto.

Crítica por: Fabio Yamada.

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