"THE VOYEURS" - 2021
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Um daqueles filmes infames que tenta parecer inteligente ao abordar uma premissa interessante mas que naufraga monumentalmente ao tentar criar plot twists cada vez mais inverossímeis em nome de um dita linguagem ou metáfora construída durante a estrutura do roteiro.
Geralmente tento evitar de escrever sobre filmes que não aprecio, talvez na maior parte das vezes nem preciso fazer muito esforço justamente porque no dia seguinte nem se quer me lembro de tê-los assistido, incorrendo no risco de começar assisti-los novamente caso nem o título da dita obra eu me recorde.
Na história em si acompanhamos a recente mudança do casal apaixonado formado por Pippa (Dydney Sweeney) e Thomas (Justice Smith) para um loft no centro de Montreal. A optometrista Pippa está deslumbrada com o apartamento com grandes janelas envidraçadas e acredita estar em um momento de virada de sua vida, onde está pronta para migrar dos entediantes livros da faculdade para uma intensa vida amorosa cheia de aventuras e decisões ruins embargadas com altas doses de álcool em noitadas intermináveis. Já o musicista e membro de uma banda deseja uma vida um pouco mais tranquila, mas não se importa em ceder um pouco aos desejos inconsequentes de sua parceira.
Logo no primeiro dia de mudança, ambos ficam fascinados com a vida sexual acrobática do casal do prédio vizinho que não tem nenhum pudor em exibir seus atos de amor para quem queira observar e apreciar. O que se inicia como uma brincadeira voyeur acaba se tornando uma obsessão, principalmente para Pippa que se deixa envolver com o lado emocional da mulher traída mas ao mesmo tempo não deixa de apreciar os atributos físicos do fotógrafo adúltero.
Até aí tudo bem, temos alguns conflitos plausíveis, uma interessante mistura de “Janela Indiscreta” com a “A mulher do Trem”. O problema é que a partir do terço final do filme, após um situação traumática envolvendo a triste modelo Júlia (Natasha Liu Bordizzo) que decorre de um ato impensado de Pippa, o filme degringola por completo.
O roteirista e diretor Michael Mohan acredita que sobrepondo reviravoltas sobre reviravoltas, cada uma mais inverossímil que a outra, conseguirá manter o interesse do expectador. No entanto, o tiro sai pela culatra e o interesse na trama se esvai por completo. As atuações que já não eram tão sólidas assim começam a se apoiar em diálogos sofríveis e a dinâmica a qual a protagonista se propõe não funciona talvez pela velocidade de milhares de decisões por segundo que ela tem que tomar, sendo que passou o filme inteiro para solucionar apenas um dilema. Além disso a necessidade que o diretor teima em criar situações relacionadas entre as metáforas entre visão, olhos, voyeurismo, cegueira e vigilância extrapolam o bom gosto, tornando tudo muito over demais. Opções de estética e linguagem que esvaziam ainda mais uma história que já não tinha tanto estofo.
Existem filmes que deixam o público irritado justamente por não lhe dar o que ele deseja, desafiando o expectador e criando uma sensação de desconforto, mas existem aquelas obras que dão tudo o que a princípio o expectador deseja empanturrando o expectador até ele ficar nauseado de tanto mais do mesmo, que as coisas, situações ou histórias vão perdendo o sabor, até a gente querer vomitar tudo aquilo que assistiu até o momento. Talvez seja exatamente isso que eu esteja fazendo agora, vomitando em palavras tudo aquilo que em excesso me enojou.
Crítica por: Fabio Yamada.
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