"A TRAGÉDIA DE MACBETH" - 2021
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Um grandioso filme que se utiliza do texto original de William Shakespeare para transportar o espectador do cinema para dentro de cenários teatrais belos e grandiosos, onde a fotografia em preto-e-branco inspirada no Expressionismo Alemão potencializa a atmosfera claustrofóbica e mística do aterrorizante texto do escritor inglês.
Joel Cohen, o diretor do filme ousa alçar voo solo sem a companhia do irmão Ethan, dupla responsável por clássicos do cinema moderno como “Fargo”, “Barton Fink” e “Onde os Fracos Não Têm Vez” e vencedores de quase todos os prêmios dos principais festivais de cinema do mundo.
No entanto, sempre fico pensando sobre o porque de se adaptar mais uma vez uma obra de Shakespeare para o cinema e justamente no momento em qual estamos vivendo, qual a relação ou interesse que o exímio diretor tem em nos apresentar essa obra? Um texto já várias vezes adaptado para o cinema, seja pelas antigas adaptações do século passado ou as recentemente pelas mãos de Justin Kurzel ou pela produção brasileira “A Floresta Que Se Move” ambas de 2015.
Intrigas palacianas sempre estão em alta vide o sucesso estrondoso de “Game of Thrones” e seus derivados similares. No entanto, seria muito ingênuo e simplório da minha parte que o diretor quisesse apenas surfar nas ondas de outros sucessos de público recentes.
Na história original, Macbeth (Denzel Washington maravilhoso) após uma batalha com os guerreiros bárbaros escandinavos recebe uma visita de três bruxas, interpretadas pela assombrosa Kathryn Hunter, dona de uma invejável flexibilidade e plasticidade física, ela profetiza que o protagonista receberá um título de nobreza e depois assumirá o trono da Escócia.
Ao chegar ao seu castelo, Macbeth confidencia a sua fiel e manipuladora esposa Lady Macbeth (Frances McDormand sempre magnífica) a profecia, que até aquele momento se concretizava parcialmente após ele se tornar Thane de Cawdor. A ambição de Macbeth influenciada e potencializada pela inescrupulosa esposa dão origem ao maléfico plano de assassinato do rei Duncan (Brendan Gleeson).
A ousadia do diretor em manter o texto original, torna-se um desafio delicioso para a dupla de atores principais, visto que eles tem de dar credibilidade e veracidade aos diálogos tornando-os palatáveis para o grande público. Além disso, os atores são muito mais velhos do que os personagens do texto original, emprestando uma maturidade melancólica para aqueles personagens que definham na tela em meio a loucura e culpa de seus atos.
A fotografia, direção de arte e cenários criam um jogo de luz e sombras que dançam conforme a trama se desenrola. A atmosfera de loucura transborda pela tela através dos grandiosos cenários teatrais intencionalmente pouco realistas, com imensos corredores e ambientes vazios sem mobília nenhuma, quase que um lembrete do imenso vazio das almas dos personagens envolvidos, que carregam apenas suas sombras, culpas e arrependimentos.
O grande ponto da história que cria um paralelo com a nossa realidade atual está justamente na velha história sobre como o poder e ambição corrompe as pessoas. No entanto, ao meu ver, a grande questão está justamente na dúvida que o texto embute na mente do espectador, o atos perturbadores de Macbeth ocorreriam sem a ajudar das palavras profetizadas pelas bruxas ou eles foram ocasionados justamente pela profecia. Uma "fake news" pode se tornam uma “verdade" justamente por que as pessoas acreditam nelas ou as pessoas agem dessa forma incompreensível mesmo sabendo se tratarem de “mentiras”? De onde se origina a tal semente do mal? Das mentiras proferidas por falsos profetas ou ela já se encontra implantada dentro de cada ouvinte? É mais fácil e menos doloroso praticar um mal que já está profetizado ou essas profecias são apenas desculpas para nossas ambições mais nefastas?
Crítica por: Fabio Yamada.
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