"TEMPO" - 2021
🔑🔑🔑🔑
Um dos filmes do tipo cinemão mainstream dos quais eu mais estava ansioso em assistir (o outro é Duna do diretor Denis Villeneuve) que parte de uma premissa muito interessante sobre questionamentos sobre a relatividade do tempo e o envelhecimento baseada numa graphic novel de Pierre-Oscar Lévy e Frederick Peeters.
O filme se inicia de forma bem despretenciosa acompanhando a estadia de alguns hóspedes em um resort em uma ilha paradisíaca. Acompanhamos a rotina de duas famílias principalmente, a primeira formada pelo pai Guy (Gael Garcia Bernal), a mãe Prisca (Vicky Krieps), seus filhos Trent (Nolan River) e Maddox (Alexa Swinton) e a outra família composta pelo médico Charles (Rufus Sewell), sua esposa Chrystal (Abbey Lee), sua mãe Agnes (Kathleen Chalfant) e sua filha Kiara (Mikaya Fisher). Além de outros hóspedes como Jarin (Ken Leung) e sua esposa Patrícia (Nikki Amuka-Bird) , o rapper Sedan (Aaron Pierre), além do gerente do resort (Gustaf Hammarsten) e seu sobrinho Idib (Kailen Jude).
Nos últimos dias de estadia desses hóspedes eles recebem um translado grátis até uma praia distante, vendida como uma verdadeira preciosidade da região. Os hóspedes chegam em uma van dirigida por ninguém menos que M. Night Shymalan, o excêntrico e genial diretor indiano do filme em mais uma de suas cameos a la Hitchcock.
Eles chegam à praia paradisíaca cercada por grandes paredões de pedra semelhantes as praias de Canoa Quebrada no Ceará ou algumas de Santorini na Grécia, que podem ser acessadas por pequenas fendas e grutas ou pelo mar. Após algumas horas na praia, eles descobrem um cadáver uma garota flutuando na margem, para logo em seguida terem a inusitada percepção de que as crianças do pequeno grupo cresceram rapidamente, 5 anos em algumas horas.
As surpresas decorrentes desse fenômeno físico ou biológico se sucedem rapidamente a cada instante, surpreendendo o expectador com a criatividade dos desdobramentos do roteiro, as vezes criando cenas inteligentes e perspicazes para chegar em outras que beiram o horror absoluto. Independente da premissa sedutora e do roteiro inteligente, a direção, a fotografia e a montagem do filme são excelentes instigando e desafiando o público a todo momento. Tenho que admitir esse diretor consegue ter o controle quase total do que deseja mostrar ao expectador, com exceção de alguns diálogos sofríveis e risíveis, além é claro a sua obsessão em tentar reeditar seu plot twist mais memorável, o do filme “O Sexto Sentido”. Afinal, ninguém é perfeito, mas realmente essa obsessão do diretor acaba por por quase todos os seus filmes a perder a ponto de as vezes começarmos a acreditar que ele nunca sabe como terminar seus filmes.
Tudo é perfeito até quase o final do filme, com todas as teorias em aberto sobre o sobrenatural daquela praia que envelhece as pessoas, o equilíbrio entre o bizarro e o ponderável, a tensão crescente, o fim iminente e irrefreável da morte, metáforas com relação as prioridades e valores pessoais em relação a relatividade do tempo e a finitude da vida. A beleza e o horror da morte, como tudo sem seu tempo e como conseguimos superar a efemeridade da vida através da profundidade das emoções. Está tudo ali, seja através das imagens dos imensos paredões de pedra intransponíveis ou pelas ondas do mar que nunca cessam. Afinal, existe uma maneira certa de contabilizar o tempo ou o tempo é apenas uma ilusão que criamos para apaziguar o medo do fim.
Sim, voltamos a falar do fim, mas agora do fim do filme. Um momento crítico de todos os filmes de Shymalan. Aqui ele tenta criar uma teoria que explique o motivo daquelas pessoas estarem lá, naquela praia envelhecendo rapidamente. Olha que a teoria nem é tão ruim assim, no entanto, ela quase que invalida por completo todo aquele processo belo e ao mesmo tempo amedrontador que o diretor tão habilmente construiu durante todo o filme. Daqueles, filmes que deveriam apresentar a partir de um determinado tempo, um aviso: Continue por sua conta e risco.
Olha aí o tempo novamente, como se o tempo estivesse sempre correndo atrás de um fim. Como se a vida ansiasse por um fim para ter valor. Como se a velhice ou a morte dignificasse todo o resto. No entanto, a realidade é muito mais cruel do que a ficção e as vezes o envelhecer ou o fim, pode realmente por tudo a perder, como se invalidasse ou se esvaziasse todas as memórias de uma vida. Talvez Shymalan tenha razão e o nosso fim ou quando envelhecermos não será nada além de um plot twist bem inverossímil e incoerente que nos desacredite por completo, uma verdadeira decepção.
Crítica por: Fabio Yamada.
Comentários
Postar um comentário