Crítica: Paradise Now

"PARADISE NOW” - 2005

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Um filme poderoso que humaniza a figura do homem-bomba e retrata de uma forma menos folhetinesca os conflitos no Oriente Médio. O primeiro filme palestino a concorrer ao Oscar de filme estrangeiro, criando muita polêmica na época (com a comunidade judaica querendo que a indicação fosse retirada ou que não concorresse com a bandeira palestina). 

Antes de falar propriamente do filme, devemos analisar duas coisas extremamente importantes. A primeira que a máquina da insdústria cinematográfica americana é dominada por judeus, que não nos deixam esquecer por um minuto o holocausto judeu da segunda Guerra Mundial (não acho que devemos esquecer, mas acredito que já ocorreram muitos outros genocídios no mundo). Justificando através dessa propaganda a invasão do território palestino na década de 50 e 60.

Outro ponto importante é o papel da mídia que transforma todo evento bélico da região em um espetáculo audio-visual com narrativas próprias e tendenciosas, seja de um lado ou de outro, conforme os interesses políticos da região ou sobre a região.

Tendo em vista esses dois pontos importantes, o filme de Hany Abu-Assad é um respiro que dá direito de voz ao cidadão “comum” palestino (talvez não tão comum afinal estão dispostos a se tornarem homens-bombas). No entanto, o principal é que desmitifica esse personagem, retratando-os como homens que tem uma vida cotidiana, com dilemas e problema de uma vida ordinária como a nossa. Eles não são os fanáticos, dispostos a tudo pelo paraíso com mil virgens.

Na história temos Khaled (Ali Suliman) e Said (Kais Nashif), jovens palestinos que são recrutados para executarem um ataque suicida em Tel Aviv. Eles não podem contar para ninguém da família e fazem suas despedidas através de um vídeo gravado (novamente a narrativa da mídia).

O filme mostra o dia e a noite de véspera do ataque, onde somos apresentados a realidades dos dois amigos, suas famílias e amigos. Eles sobrevivem em uma cidade sob ocupação, Nablus na Cisjordânia, com sua paisagem apocalíptica, praticamente sem nenhuma perspectiva de vida ou sonhos.

O terrorismo aqui é retratado por um viés de lógica política, por falta de perspectiva de vida e incapacidade de lutar com outras armas, que não seu próprios corpos. A falência da instituições políticas é retratada através dos diálogos com a personagem Suha (Lubna Azabal). O fanatismo religioso praticamente inexiste, sendo utilizado apenas como um artifício, uma desculpa vazia, quase que uma máscara usada por esse personagens de propaganda de guerra.

Paradise Now versa sobre a necessidade de se alcançar a felicidade e os sonhos agora, mas também retrata como todo um povo pode ser impedido disso durante várias gerações seguidas.

Crítica por: Fabio Yamada.

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