Crítica: O Cão Que Não Se Cala

"O CÃO QUE NÃO SE CALA" - 2021

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Um filme que surpreende pela simplicidade e resiliência do personagem principal, um homem comum, que pode ser considerado um fracassado por alguns, mas que consegue passar por várias dificuldades aparentemente intransponíveis tomando decisões controversas e fazendo escolhas inusitadas, mas sem nunca perder a esperança de que dias melhores virão.

A produção em preto-e-branco de baixo orçamento da argentina Ana Katz, protagonizada por seu irmão Daniel Katz, começa com os vizinhos de Sebastian reclamando sobre o choro e latidos de sua cadela Rita que permanece muito tempo abandonada em casa. O nosso protagonista decide então levar o seu animal de estimação para a agência de publicidade onde trabalha como designer gráfico. As diretoras da empresa incomodadas com a situação tentam explicar o escritório da agência não é um lugar adequado para um cão e após muita explanações dão um xeque-mate em Sebastian. Ele sem titubear decide pedir demissão da empresa para cuidar de Rita. Os dois viajam para o campo onde a cadela pode viver ao ar livre e Sebastian começa a trabalhar em uma cooperativa agrícola.

Nesse trabalho, Sebastian acaba por conhecer sua futura esposa com quem tem um filho. As elipses temporais não seguem nenhum tipo de padrão ou convenção, o expectador é lançado anos a frente num piscar de olhos sem nenhuma explicação maior. O filme inteiro funciona como pequenos esquetes separados onde cada um desses pequenos curtas tentam passar um espectro diferente da realidade com a qual estamos tendo que lidar diante da pandemia.

Se por um lado as escolhas de linguagem e narrativa escolhidas pela diretora podem parecer displicentes, torna-se impossível não se surpreender e se emocionar com as escolhas do protagonista dentro da trama. Diante do sofrimento da cadela diante de seu isolamento forçado, o protagonista prefere abandonar o emprego e sua segurança. Diante do desemprego forçado ele consegue se reinventar. Diante de uma catástrofe natural ele consegue ter a resiliência e esperança de que tudo vai melhorar.

Independente da qualidade cinematográfica do filme de baixo orçamento da diretora argentina, devemos olhar com bons olhos o resultado e a mensagem que ela consegue transmitir para o público de forma tão poética e criativa. Conseguir repensar a realidade na qual estamos vivendo, abstrair dela os sentimentos e valores mais essenciais e redigir histórias que possam se transformar em um filme é o que verdadeiramente podemos chamar de arte. Uma arte que não se deixa calar.

Crítica por: Fabio Yamada.

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