Crítica: It's A Sin

"IT’S A SIN" - 2020

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Uma fantástica e cativante minissérie que resgata a história de outra pandemia assustadora do século passado. Russel T. Davies, o criador da imperdível “Years and Years” retorna como esse projeto com uma visão bem particular sobre o período no qual a epidemia da AIDS devastou a comunidade LGBT (ainda não haviam as outras iniciais da sigla) em Londres.

Na história somos apresentados a cinco carismáticos personagens que tentam traçar um panorama geral da vida gay londrina, Ritchie (Olly Alexander fantástico um ator-cantor que por coincidência fez parte de uma banda com nome Years and Years - fato que me fez alguma confusão na cabeça), Ash (Nathaniel Curtis), Roscoe (Omari Douglas inesquecível), Jill (Lydia West surpreendente - ela sim participou do projeto anterior do diretor, a minissérie Years and Years) e Colin (Callum Scott Howells adorável).

A maioridade chega para esses personagens com cores e fragrâncias de liberdade como se o universo se expandisse para cada um deles no começa da série. A felicidade e a juventude transbordam da tela na caracterização do início da década de 80. Ficamos embriagados, extasiados e deslumbrados como na primeira vez que adentramos a uma boate gay.

No entanto, conforme o tempo passa o enredo assume contornos cada vez mais tortuoso, sombrios e dolorosos. No início, os personagens assumem que as notícias sobre a “peste gay” são apenas boatos ou teorias de conspirações de grupos preconceituosos. Após as confirmações de alguns dados, as pessoas continuam sentindo-se seguras pois a doença apresenta-se confinada a um país distante em outro continente, assim como no caso de outras pandemias. Como em todo processo de negação, cada um cria seu próprio processo de desculpas para sentir-se seguro e sem a necessidade de modificar sua rotina e comportamento. Afinal, ninguém quer perder a liberdade recém adquirida. 

Assim como na vida real, a cada episódio da série a doença se alastra comendo pelas beiradas, ceifando as vidas de alguns personagens secundários de nossas vidas, mas com a promessa de logo chegar ao núcleo de nossa família. A primeira vítima marcada pelas terríveis manchas do famigerado sarcoma, que até então era sinônimo de morte iminente, foi o colega de trabalho de Colin, Sr. Henry (Neil Patrick Harris em uma participação especial).

Além da fabulosa reconstituição de época recheada de música memoráveis e um elenco afinado, a produção original do Channel 4 exibida pela HBO Max consegue acertar perfeitamente o timing com a chegada da pandemia do COVID traçando um paralelo perfeito entre a visão negacionista e preconceituosa vivida naquela época por uma geração, mas que o desmemoriado mundo aparentemente fez o trabalho esquecer. Um belo retrato de uma época na qual uma minoria era punida pelo prazer que sua sexualidade inata proporcionava, acusado como pecadores e marcados por uma doença fatal. Em uma cena memorável da série, um personagem diz que apesar de todos os males temos que lembrar do quão divertida a vida pode ser. Afinal, no fim de tudo, talvez as únicas coisas que nos restem sejam as boas lembranças de uma vida divertida. Agora se isso for pecado, vamos todos para o inferno juntos.

Crítica por: Fabio Yamada.

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