Crítica: Dois Dias, Uma Noite

"DOIS DIAS, UMA NOITE” - 2014

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Um filme sensacional dos irmãos Dardenne e uma atuação excepcional de Marion Cotillard. Os diretores conhecidos por seus filmes minimalistas com premissas simples com conflitos morais ganhadores de duas Palmas de Ouro mais uma vez fazem um cinema de crítica social.

Na história temos Sandra (Marion Cotillard magnífica) como uma mulher que está retornando ao trabalho após um período de depressão e descobre que será mandada embora. A empresa colocará em pauta uma votação na qual pode manter Sandra no quadro de funcionários ou cada um dos trabalhadores pode receber um bônus de mil euros se eles concordarem com sua demissão.

Sandra tem o final de semana do título para convencer seus colegas a votarem pela permanência dela no trabalho. Sandra visita cada um deles e tenta numa conversa olho no olho angariar votos.  Se prestarmos atenção a proposta da empresa, não existe punição aos funcionários, eles ganharão um dinheiro extra, que até então não existia, caso concordem com a demissão. Estamos em plena crise econômica na Europa, com vários empregos sendo perdidos. Estamos falando de uma funcionária que ficou afastada por uma doença mental (depressão) e não física, muitos poderiam falar que seria “corpo mole”. Por outro lado, a demissão poderia causar a recaída da doença de Sandra. 

O estilo de direção dos irmãos Dardenne com a câmera na mão e a presença de Marion Cotillard sem maquiagem com o mesmo figurino dá a impressão de que estamos assistindo a um documentário. O que aumenta ainda mais a sensação de realidade e urgência da situação, embarcamos no drama da personagem a cada visita.

Através dessa dinâmica externa do trabalho somos apresentados aos conflitos internos da personagem que tem que se mostrar forte para retorna ao trabalho (apesar da depressão), uma relação infeliz com o marido e a relação deste com o filho de Sandra. 

A cada visita de Sandra aos colegas de trabalho somos expostos a dilemas morais, pois cada um dos colegas tem suas justificativas para votarem pela demissão de Sandra, uns pelo valor do bônus que ajudará em projetos pessoais, outros que utilizam os familiares como desculpas, outros por receio de represálias por parte da empresa e alguns que não conseguem nem encarar a colega.

Nós nos comovemos a cada voto que Sandra consegue reverter, evocando a momentos de extrema humanidade. O filme transforma-se em uma gangorra de emoções. Não estamos diante de um daqueles feel good movies americanos. Estamos em uma época caracterizada pelo egoísmo extremos das pessoas, onde todos se sentem no direito priorizar os seus próprios interesses sem o menor pudor, mas mesmo assim temos um filme otimista apesar de tudo. Uma pequena obra-prima.

Crítica por: Fabio Yamada.

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