Crítica: De Longe te Observo

"DE LONGE TE OBSERVO” - 2015

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Um filme extremamente forte e pessimista. Uma visão dura e seca sobre um tipo de relação afetiva entre dois homens poucas vezes retratada pelo cinema latino-americano. Vencedor do Leão de Ouro em Veneza, trata-se do primeiro longa de Lorenzo Vigas com roteiro de Guillermo Arriaga.

Na história temos Armando (Alfredo Castro fabuloso) um protético odontológico que no momentos de folga perambula pelas ruas de Caracas aliciando jovens para se despir para ele, enquanto ele se masturba, sem nunca toca-los. O único vinculo afetivo que Armando possui é a irmã Amélia (Jericó Montilla). Ele também observa de longe um senhor, que depois descobrimos tratar-se de seu pai, suscitando um possível passado de abusos.

Armando conhece Elder (Luis Silva), um rapaz marginalizado que vive de pequenos golpes, Armando oferece dinheiro para ele se despir em sua casa. O primeiro encontro entre os dois termina em violência. No entanto, Armando insiste masoquistamente em tentar seduzir o rapaz, acreditando que o dinheiro e o poder suplantarão a resistência de Elder. 

O vínculo entre os dois se estabelece baseado nessa relação de troca de interesses, no entanto, Elder começa enxergar Armando como uma figura paterna. A mudança de comportamento pode ser observada no convite que Elder faz para Armando ir a uma festa em sua casa. Existe uma aproximação entre os dois mundos, mas Armando permanece sempre como um observador distante do mundo de Elder.

O filme silencioso, econômico nos diálogos, expressando a quase incomunicabilidade entre os personagens. O diretor transforma a cidade de Caracas em um grande vale com torres observatórias, separando esses dois mundos.

O enredo na minha opinião tem muitas camadas e pode ter várias leituras. O passado abusivo de Armando pode representar a ditadura militar dos países latinos, que criou ou manteve esse abismo social que torna essas relações entre os dois mundos recheada de medos, tensões e desconfianças. Onde sempre existe um no papel de oprimido e outro de abusador, nunca sabemos quem é o verdadeiro parasita. 

O voyeurismo de Armando pode ser considerado como o papel da burguesia que manipula as massas para combater os regentes políticos de direita ou de esquerda conforme seus interesses, afim de manter o stablishment, sem nunca sujar suas mãos. 

O final do filme, considerado por alguns inverossímil, é muito triste e pessimista, mas na minha humilde opinião não tem nada de incongruente, basta ver a situação na qual nosso país se encontra onde a grande massa da população é jogada de um lado para o outro dando giros de 180 graus, incapaz de enxergar o processo de manipulação.

Crítica por: Fabio Yamada.