Crítica: 7 Prisioneiros

"7 PRISIONEIROS" - 2021

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Um filme nacional produzido pela Netflix cujo tema social é de extrema importância para a realidade da nossa sociedade, o trabalho escravo.

O filme aborda as muitas facetas dessa realidade criminosa, desde a extensão e associações com policiais e políticos corruptos até as ondas de imigração de refugiados. Interessante pensar que se na época na qual a economia brasileira estava em alta, esses grupos se serviam de mão de obra dos imigrantes latinos e haitianos, agora com a economia em baixa os trabalhadores locais voltam a ser os alvos dessa trupe de criminosos.

O trabalho escravo ou análogo a escravidão sempre existiu e, provavelmente, sempre irá existir em nosso país, herança dos tempos coloniais. O importante é garantir a manutenção de instituições que combatam esse tipo de crime.

No filme acompanhamos a história de quatro jovens do interior de Minas Gerais que embarcam em uma aventura para a cidade de São Paulo, com o sonho de uma vida melhor e uma promessa de trabalho em um ferro-velho comandado por Luca (Rodrigo Santoro excelente). Matheus (Christian Malheiros), Samuel (Bruno Rocha), Vitor Julian (Ezequiel) e Isaque (Lucas Oranmian) acabam ficando reféns e aprisionados dentro do ferro-velho, devido a uma dívida absurda e injusta cobrada pelo seu chefe.

Ao tentarem fugirem do local, eles percebem que a associação criminosa se extende muito além dos muros do ferro-velho, envolvendo a comunidade local e a polícia da região. Matheus planeja um acordo com Luca oferecendo um aumento de produção dos trabalhadores em troca da quitação da dívida e liberdade para o grupo.

No entanto, Luca percebe o potencial de Matheus e se identifica com o garoto, oferecendo para ele a oportunidade de crescer dentro do grupo criminoso. Após vários testes de fidelidade, Matheus ganha a confiança do chefe. Tanto o expectador quanto o grupo de jovens aprisionados ficam em dúvida sobre as verdadeiras intenções de Matheus. 

A trama consegue envolver e chocar o expectador ao mostrar a realidade por trás dessas notícias que vemos nos jornais de TV. No entanto, o grande trunfo do filme está nas interpretações da dupla principal de atores e no roteiro que consegue expressar a falta de perspectivas de toda uma grande camada da sociedade, que acaba aprisionada e consumida por esse imensa engrenagem que é o sistema capitalista. 

O diretor faz a opção de tentar construir um filme realista e de denúncia social, sem apelar muito para conflitos internos ou drama psicológico dos personagens. O grande dilema reside na decisão que Matheus deve tomar em relação ao seu futuro e ao destino de seus companheiros aprisionados. Impossível não se identificar e se chocar com os caminhos que a trama assume. 

Um drama pesado e realista que merece ser conferido. Você pode concordar ou discordar das escolha do roteirista/ diretor, que se arrisca a não oferecer nenhum tipo de redenção final para aquele que sonha com uma realidade mais justa. No entanto, não podemos deixar de admirar a coragem desse final ao mesmo tempo, realista e pessimista, sem deixar o aspecto humano de lado, mesmo que ele se apresente em sua pior face.

Crítica por: Fabio Yamada.

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