"30 MONEDAS" - 2020
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Uma surpreendente série criada por Álex de La Iglesia para a HBO espanhola que se utiliza da atmosfera de terror e suspense para falar sobre temas religiosos.
Uma grande brincadeira sobre a origem do mal no mundo utilizando a traição de Judas contra Jesus Cristo como metáfora. As trintas moedas que segundo os evangelhos Judas recebeu como recompensa passam a ser os objetos centrais da trama. A cada capítulo somos apresentados a uma cena de abertura que mostra as desventuras de uma entidade secreta em busca de uma das moedas em algum lugar do mundo com direito a sangue e violência extrema típica do diretor.
A trama principal acontece em um vilarejo da Espanha próximo a Segóvia (na verdade a maio parte das cenas foram filmadas na cidade de Predraza que possui 500 habitantes) onde estranhos eventos coincidem com a chegada do novo pároco local, o Padre Vergara (Eduard Fernandéz).
O primeiro acontecimento sobrenatural se dá com o nascimento de uma criança durante o parto de uma vaca, parto este que foi auxiliado pela veterinária Elena (Megan Montaner) na fazenda de posse do prefeito local Paco (Miguel Ángelo). A amizade entre os dois personagens vai evoluindo para um interesse romântico com o passar dos acontecimentos para infelicidade da esposa de Paco, a excêntrica Merche (Macarena Gómez maravilhosa).
A primeira pessoa a quem a dupla recorre para solucionar os estranhos eventos é justamente o padre Vergara, que tenta analisar as situações de forma fria e prática, buscando sempre uma explicação lógica e científica para cada um dos eventos. No entanto, os acontecimentos se avolumam e se atropelam a cada capítulo, fazendo com que até o próprio Vergara venha a recorrer ao seu lado celestial ou demoníaco para controlar a situação.
Criaturas monstruosas, objetos mágicos, humanos possuídos por demônios e renascidos do inferno invadem a rotina do vilarejo em busca da última moeda que se encontra na posse do padre Vergara, relíquia de um malfadado exorcismo que o padre realizou quando mais jovem.
O roteiro inteligente e dinâmico, associado a uma fantástica fotografia e direção de arte fazem com que a produção espanhola esteja acima do nível de qualquer filme ou série americana de gênero, lembrando um pouco o universo do mexicano Guillermo del Toro, que por sinal é muito amigo do diretor.
O elenco afinado e carismático consegue gerar empatia com espectador e garantindo ótimos momentos de humor e terror. O diretor que ficou famoso com seu filme “O Dia da Besta” de 1995, um terror cheio de humor, consegue aqui surpreender e entreter o espectador novamente com temas sobre religiosidade, mergulhando fundo em teorias sobre livros e textos proibidos controlados pelo Vaticano que poderiam interferir sobre a fé dos cristãos no mundo. Estripulias religiosas à parte, os diálogos entre os personagens Vergara, Santoro (Manolo Solo), Sandro (Pépon Nieto) e Angelo (Cosimo Fusco), além de serem deliciosos de assistir conseguem expor idéias perspicazes sobre, como em teoria, um ser que pode tudo como o tal Deus cristão permite que verdadeiras atrocidades aconteçam no mundo causando um sofrimento sem fim em seus fiéis.
Os exageros estéticos e grotescos de Iglesias podem ser perdoados em vista das belas soluções cinemáticas das quais ele se utiliza para demonstrar situações complexas como no episódio sobre um espelho mágico que reflete a culpa e os medos ou na belíssima sequência de abertura ilustrando os eventos bíblicos.
Eu como um grande fã do diretor torço para a realização de uma nova temporada da série de terror religioso, dando sequência aos eventos ocorridos ao final da temporada ou seguindo para um lado mais antológico que se inspire em outro evento oculto da história do cristianismo.
Crítica por: Fabio Yamada.
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