"SEM AMOR" OU “LOVELESS” - 2017
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Um filme devastador, não tem como assistir a esse filme e não sentir que algo se quebrou. Nunca um filme conseguiu representar a máxima de que a indiferença e o desprezo é muito pior que o ódio e a raiva.
O diretor Andrey Zvyagintsev consegue através de imagens de uma paisagem gélida e desértica transmitir o vazio da relação do casal Zhenya (Maryana Spivak, fantástica) e Boris (Aleksey Rozin). Eles mantém um casamento de fachada por um prazo determinado para manter os empregos e uma pensão, no entanto, ambos já engrenaram em novos relacionamentos. Zhenya com um empresário rico e Boris com uma colega do trabalho. Ambos estão resolvidos, tocaram suas vidas e estão satisfeitos com os novos parceiros. O único entrave na vida dos dois é Alyosha (Matvey Novikov), o filho que os dois tiveram juntos. Não existe raiva nem rancor entre essas três pessoas, somente uma indiferença imensa. Um vazio de sentimento pelo garoto que representa o relacionamento fracassado. Sendo assim nenhum dos pais deseja ficar com a guarda do filho, que vaga em meio a paisagem insípida invisível aos olhos de quem deveria zelar por ele.
Após um cena extremamente dolorosa, na qual Alyosha escuta os pais divergindo sobre para quem sobrará o estorvo. Alyosha decide fugir de casa em pleno inverno rigoroso. A ausência da criança só é percebida mais de três dias depois da fuga, tamanho o grau de indiferença dos pais.
O casal é forçado a conviver junto depois da descoberta do desaparecimento da criança. O único sentimento que vemos em cena é a culpa, que ambos depositam no outro. Os longos silêncios durante as buscas pelo menino, suscitam a idéia do alívio que pode representar o desaparecimento do filho na vida dos pais, que estarão livres para viverem suas novas vidas. Esse sentimento de alívio nunca chega a ser verbalizado, mas permeia cada cena do terço final do filme.
A burocracia e ineficiência da polícia em executar as buscas pela criança demonstra o desprezo que as instituições russas tem pela vida de seus cidadãos (não muito diferente do que acontece por aqui). Os arroubos dramáticos do sofrimento de Zhenya em nenhum momento expressam um amor pelo filho desaparecido, mas evocam a culpa em relação ao alívio que o fato representa. No final descobrimos que não existe espaço para Alyosha nesse lugar esvaziado de amor, no qual somos obrigados a permanecer por mais de duas horas e tão belamente representado por Andrey Zvyagintsev. Como eu disse no início, um filme lindo e devastador.
Crítica por: Fabio Yamada.
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