Crítica: Raised By Wolves

"RAISED BY WOLVES"  -  2021

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Um verdadeiro espetáculo visual sob a direção de Ridley Scott que se utiliza do clássico gênero da ficção científica para discorrer sobre temas caros para ele, como valores criação no sentido de maternidade/paternidade seja ela biológica/ adotiva/ tecnológica/ criacionista. Resumindo a eterno dilema do diretor em relação a busca do seu ou nosso criador, como já visto em filmes como “Blade Runner” ou “Prometheus”.

Uma dupla de andróides chega ao planeta Kepler-22B com a missão de colonizar o planeta através da gestação de embriões humanos. Mãe (Amanda Collin magnífica) fica encarregada de gestar os embriões em recepientes gelatinosos, enquanto o Pai (Abubakar Salim fabuloso) inicia a construção da colônia.

Inicialmente, não sabemos ao certo o que ocorreu na Terra para eles a terem abandonado, aos poucos descobrimos indícios sobre uma guerra entre ateus e mitraístas (devotos da religião do Sol). Perfazendo, uma metáfora entre tecnologia contra religião ou estudiosos contra negacionistas.

Os embriões dão origem a seis crianças, que vão adoecendo e morrendo com o passar do tempo. O único sobrevivente é o caçula Campion (Winta McGrath surpreendente). Os ensinamentos de seus criadores renegando qualquer tipo de crença sobrenatural afeta a imaginação criativa de Campion, que não consegue assimilar o por que dele ser o único sobrevivente.

A chegada de uma nave de colonos religiosos do Sol coloca Pai e Mãe em lados distintos, pois enquanto Pai deseja que Campion interaja com outros seres humanos independente de suas crenças, Mãe é completamente contra essa interação, mesmo que o filho seja condenado a solidão no planeta, pois os andróides apresentam os primeiros sinais de deterioração.

A nave em questão tem em meio a seus passageiros dois intrusos ateus, Marcus (Travis Fimmel) e Sue (Niamh Algar) que roubaram a identidade de um casal crente e assumiram a paternidade de Paul (Felix Jamieson). Após um primeiro embate com Mãe, os religiosos sofrem um contra-ataque surpresa que destrói completamente sua nave. Mãe sequestra cinco crianças tementes a Sol com a finalidade de repor os embriões perdidos.

Em meio a tudo isso temos alguns eventos sobrenaturais relacionados a alucinações auditivas e visuais tanto de humanos quanto de andróides, que cada um dos personagens interpretam a sua maneira, para alguns um chamado celestial, para outros dores da culpa de ações do passado e para outros simbolizam a esperança de um mundo melhor.

As linhas temáticas se cruzam de forma inesperada no último episódio com revelações surpreendentes. Andróides que dão à luz, ateus que se tornam crentes e crentes que perdem sua fé.

Uma bela alegoria para tempos tenebrosos nos quais vivemos, onde uma onde de negacionismo invade a humanidade, como se a crença em um deus negasse qualquer tipo de avanço científico. Uma produção que cria uma fábula para ilustrar a idéia de que toda crença ou mito pode um dia se tornar uma evidência científica e que toda inteligência artificial pode um dia necessitar de crenças, sentimentos e ilusões para interagir melhor com nossa humanidade.

Crítica por: Fabio Yamada.  

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