"PANIC" - 2021
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Um série que se vende muito mal através de sua sinopse ao dizer que se assemelha a “Jogos Vorazes”, no entanto, vamos percebendo com o passar da trama que tanto o jogo em questão quanto o pânico gerado por ele são apenas metáforas para situações e sentimentos bem mais importantes.
Inicialmente, não fiquei muito interessado em assistir a essa série justamente por ter a idéia de que se tratava apenas de mais uma história na qual adolescentes de uma pequena cidade americana aceitam participar de jogos letais afim de realizarem seus desejos. Imaginei que se tratasse daquele tipo de filme onde os adolescentes vão morrendo ou desaparecendo a cada prova e que estas fossem se complicando a cada etapa, tipo uma mistura de “Malhação" num acampamento de “Jogos Mortais”.
No entanto, essa é apenas a superfície de uma história onde as provas dos tais jogos, que incluem pular de um penhasco, andar vendado sobre uma ponte, jogar roleta russa, invadir a casa de um traficante ou permanecer uma noite numa suposta casa mal-assombrada, são apenas desculpas para nos apresentar personagens complexos, mesmo por que as provas em questão nem são tão interessantes assim.
A série que aos poucos vai decepcionando aqueles espectadores famintos por provas extravagantes e sanguinárias, apresenta-se como um drama com personagens complexos que fogem do clichê esperado. Temos a inteligente e esperta Heather (Olívia Welch), a adolescente pobre que economiza dinheiro para sair da cidade e não acredita no embuste do jogo. Bishop (Camron Jones), um jovem negro filho do juiz da cidade, apaixonado por sua amiga Heather e que aparentemente tem um futuro brilhante. A sedutora Nathalie (Jessica Sula) que sonha em ser atriz em Hollywood. O rebelde Ray (Ray Nicholson) cujo irmão e pai estão na cadeia. O forasteiro misterioso Dodge (Mike Faist) que esconde um segredo sobre a irmã paraplégica. Tudo isso envolto no mistério sobre o jogo que já foi o causador da morte de vários adolescente incluindo a do filho do delegado local Sherif James (Enrique Murciano).
Até aí um baita clichê ambulante, no entanto os roteiristas e diretores vão desconstruindo esses personagens aos poucos. A mocinha inteligente não é tão inocente e boazinha. O garoto rico não faz tudo que seus pais esperam dele. A sedutora revela-se bem mais complexa e egoísta do que geralmente esperamos. O rebelde não é tão burro e mau como deduzimos. O forasteiro não é tão corajoso e sua vingança nem tão bem estruturada.
Os medos reais de cada participante do jogo não decorrem de nenhuma das provas apresentadas mas sim da vida real de cada um deles, Heather tem medo de ter de abandonar seus sonhos devido aos seus problemas familiares, com sua mãe negligente que não cuida de sua irmã caçula. Bishop tem medo de ter que carregar o fardo de seu pai que construiu uma reputação apesar de ser negro. Nathalie tem medo de ser abandonada por isso tem uma necessidade compulsiva de destruir tudo a seu redor. Ray tem medo de se apaixonar, então se afasta de tudo que pode ser bom para ele. Dodge tem medo de enfrentar os seus próprios problemas por isso mergulhar nos problemas da irmã.
Todos imaginam um motivo irreal para serem obrigados a participar do jogo e fugir da cidade, mas nem sempre isso corresponde a verdade. Afinal, nem sempre o que a gente deseja é o que realmente necessitamos. Sempre estamos tentando escapar do que nos aflige, mas as vezes a única coisa que precisamos fazer é ficar e enfrentar os nossos problemas reais. Os nossos pânicos reais geralmente estão camuflados pelos desejos e sonhos dos outros.
Crítica por: Fabio Yamada.
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