Crítica: Halston

"HALSTON" - 2021

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A nova produção de Ryan Murphy para a Netflix conta a história de uma dos maiores ícones da moda americana e personificado pelo magnífico Ewan McGregor.

Eu sou um analfabeto do mundo da moda, talvez por isso nunca tenha ouvido falar de Roy Halston Frowick, um visionário e excêntrico estilista nascido em Des Moines no estado de Iowa que revolucionou o mundo da moda com suas roupas minimalistas. A minissérie baseada no livro  Simply Halston de Steven Gaines tenta em 5 episódios de 50 minutos resumir a vida desse estilista do nascimento a morte.

A história se inicia com um retrato da infância do protagonista que fazia chapéu para alegrar sua mãe. Passamos rapidamente para a vida adulta, quando Jackie Kennedy começa a usar um chapéu desenhado por Halston, o Pill Box. Halston ao mesmo tempo que começa a investir na idéia de construir sua própria marca com roupas minimalistas e luxuosas, mergulha no submundo das drogas e sexo. Após conhecer Liza Minnelli (Krysta Rodriguez, maravilhosa), sua carreira deslancha vertiginosamente, atingindo o ápice em 1973 durante uma batalha entre estilista franceses e americanos ocorrida em Versalles, onde de uma lado tínhamos Givenchy, Pierre Cardin, Yves Saint Laurent, Ungaro e Dior, enquanto do lado americano, Bill Blass, Anne Klein, Stephen Burrows, Oscar de la Renta e Halston.

No entanto, o evento foi seguida da venda de sua marca para Norton Simon, que mais tarde seria adquirida pela Esmark. Paralelamente, a vida pessoal de cercada por escândalos sexuais e ligadas a uso abusivo de drogas. A ascensão e fama de Halston seguiu paralelamente a da famosa boate Studio 54, onde o estilista batia cartão.

O declínio profissional de Halston começou com a criação de uma coleção de baixo custo para a JCPenny e terminou com a perda de sua marca em 1984. Abalado emocionalmente e infectado pelo vírus HIV, Halston acabou saindo de Nova Iorque e embarcando em uma viagem solitária pela costa oeste, onde faleceu em 1990 aos 57 anos de idade.

Na minha humilde opinião, essa não é a melhor forma de contar a vida de ninguém, pois a vida de uma pessoa seja ela quem for não se resume aos seus pontos mais altos e baixos. Chega a ser leviano, quando um autor tenta retratar uma pessoa por seus atos extremos. Por definição, não sou muito fã de biografias justamente por isso, preferindo aquelas obras que optam por um recorte da vida do retratado que transmita sua essência e seus valores. Afinal, não somos frutos da soma e divisão de nossas ascensões e quedas, estamos mais para um retrato impressionista em meio a névoa, como uma fotografia com tempo de exposição prolongado em pose de meditação. Alguns podem dizer que revelamos quem somos em situações extremas, no entanto, acredito que nessas situações somos guiados por fatores externos, nossa verdadeira essência aflora nos pequenos momentos de monotonia do cotidiano, quando temos tempo de para racionalizar os acontecimentos do presente, nos relacionarmos com o que está nossa volta e exprimir nossos sentimentos. A vida acontece naqueles momentos em que estamos distraídos realizando planos para o futuro.

A vida de uma figura tão excêntrica e incongruente que amava a arte e almejava transformar-se no Balenciaga americano merecia uma abordagem mais ousada e menos protocolar. A idéia do roteiro seguir uma narrativa linear pontuada por eventos profissionais e escândalos jornalísticos não me parece tão atrativa. Os poucos momentos, onde a direção ousa voos mais intimistas, como a criação do perfume com a participação de Vera Farmiga ou na apresentação do ballet com os figurinos criados pelo estilista oferecem uma amostra do potencial artístico da série criada por Ryan Murphy e dirigida por Daniel Minahan e de até onde poderia chegar. No entanto, nunca saberemos se o resultado foi fruto da incompetência da dupla (menos provável em vista de produções anteriores muito mais ousadas como “Pose" ou “O Assassinato de Gianni Versace") ou pelos obstáculos criados pelo serviço de streaming com medo de afastar o grande público.

Crítica por: Fabio Yamada.

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