Crítica: The Girlfriend Experience

"THE GIRLFRIEND EXPERIENCE" - 2016

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Uma série que aborda a vida de uma jovem que ingressa no mundo das acompanhantes de luxo ou melhor da prostituição. Já vimos várias produções que abordam o tema, inclusive produções nacionais como: “Bruna Surfistinha”, “O Negócio” ou “Verdades Secretas”.

Talvez, o filme mais chocante e moralista sobre o tema tenha sido o alemão “Eu, Christiane F.” de 1981, o mais sentimental “Pretty Baby” 1978 de Louis Malle ou o mais romântico “Uma Linda Mulher” de 1990. No entanto, nenhuma dessas produções conseguiu passar de forma verossímil o processo de transformação de uma mulher ou os sentimentos contraditórios e profundos de uma personagem complexa e tridimensional. Talvez duas obras que tenha chegado próximo de atingir esse objetivo tenham sido: “Belle de Jour” de Luis Buñuel de 1967 e “Jovem e Bela” de François Ozon de 2013.

Como podemos ver pelo número de obras cinematográficas que abordam o tema, essa é uma premissa que seduz o espectador e desafia alguns diretores e escritores. Talvez por isso, Steven Soderbergh tenha se embrenhado nessa temática em um longa de 2009 protagonizado pela atriz pornô Sasha Grey e retornado ao tema com essa série protagonizada pela filha de rei Elvis Presley, a bela Riley Keough.

Nos episódios subsequentes acompanhamos a trajetória de Christine, uma ambiciosa estudante de direito, que ao mesmo tempo que consegue um prestigioso estágio em uma importante firma de advocacia, acaba por ser seduzida por este mundo da prostituição de luxo.

A princípio podemos pensar que a única coisa que seduz nossa insensível protagonista seja o dinheiro e os luxos que essa vida proporciona, no entanto, aos pouco percebemos que tudo se trata de uma relação de poder, onde cada um lutas com as armas que tem a mão.

Inicialmente, Christine conhece uma colega de classe que faz programas agenciados por uma influente cafetina, que além de agenciar as garotas, investiga e seleciona os potenciais clientes. Christine, além da beleza proporciona aos clientes tudo o que eles desejam, sabendo o que dizer nas horas certas, sem jamais deixar se envolver emocionalmente, sabendo tirar vantagem de cada informação para agradar o cliente ou para benefício próprio.

Essa junção de inteligência e falta de emoção alça a nossa protagonista para patamares mais elevados, logo ela percebe que não precisa de ninguém para agencia-la e abandona a cafetina aproveitadora. A ambição de Christine não se limita ao mundos da prostituição, utilizando todas as suas habilidades para progredir dentro da firma de advocacia.

No entanto, existem alguns percalços na vida de Christine, como o Pequeno Príncipe já dizia: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas” e Christine naufraga justamente por não saber compreender até onde o desejo de posse de um cliente pode ir, talvez justamente por ela não entender esse tipo de sentimento.

Nunca sabemos ao certo o que seduz Christine, se o prazer do sexo ou o poder sobre o sexo. No entanto, fica evidente a transformação completa de Christine após o escândalo dentro da firma após a exposição de um vídeo onde ela revela durante uma relação sexual seu prazer em receber dinheiro em troca. Ela abandona a empresa, não sem antes receber uma bela remuneração para não processar seus antigos patrões e assume sua nova profissão perante a família. 

A interpretação fria e apática de Riley constrói uma personagem que não dá espaço para o melodrama barato. Podemos sentir o desconforto evidente da personagem em diversas situações, mas isso nunca nos é jogado na cara, como se pudéssemos acompanhar as diversas máscaras que a personagem se utiliza para não se machucar. Nunca somos expostos a dor da personagem, somos forçados a nos prostrar no lugar da personagem, justamente por ela não expressar seus sentimentos de forma explícita.

Nunca foi tão fácil expressar graficamente o sexo na tela, mas ao mesmo tempo tão difícil construir essa sexualidade exposta. A visão ocidental e católica a respeito do ato sexual nos desafia a encarar a verdadeira complexidade da sexualidade e do desejo, sendo necessário ultrapassarmos os muros da falsa e hipócrita moralidade cristã para vislumbrarmos a totalidade verdadeira da pulsão sexual, que vai muito além de atingir o orgasmo.

Crítica por: Fabio Yamada.

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