"THE GIRL WHO GOT AWAY" - 2021
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Um filme interessante de terror que chega a surpreender o espectador pela atmosfera incomoda e cheia de tensão que o diretor consegue construir através de personagens pouco convencionais.
Na história que apresenta a tradicional cena de abertura eletrizante onde um pai de família acompanhado de seu filho adolescente dirige seu carro por uma estrada escura. Eles passam por uma mulher ensanguentada com uma faca na mão caminhando no escuro. O pai decide seguir em frente, deixando o filho aturdido com sua decisão. Um pouco mais a frente, eles se deparam com uma garota correndo desesperada pela estrada, como se estivesse fugindo de alguém. Ela se embrenha na mata, o pai decide para o carro e socorrer a garota, enquanto o filho fica no carro esperando por ele. O garoto é surpreendido pela garota batendo no vidro, ele deixa ela entrar. Logo em seguida, chega a mulher com a faca na mão, ela quebra o vidro do carro e tenta atacar as crianças. O pai chega por trás da mulher e a atinge com um pé de cabra, deixando-a inconsciente no chão. A polícia é chamada e a garota revela que seu nome é Cristine (Audrey Grace Marshall).
Anos mais tarde, encontramos Cristine (Lexi Johnson) como uma professora infantil que está tentando adotar uma adolescente problemática Lisa (Willow McCarthy) junto com seu namorado Tom. Durante a sua festa de aniversário, onde Cristine revelaria a adoção de Lisa para todos seus amigos, ela é surpreendida pela visita do policial Jamie (Chukwudi Iwuji) que revela que sua sequestradora de infância, Elizabeth (Kaye Truckerman) fugiu da prisão e pode estar a sua procura. Rapidamente, Cristine decide levar Lisa para a casa dos pais originais e retornar para casa, afim de aguardar a chegada de sua algoz.
Além disso, existe a presença constante do ex-chefe de polícia Gerry (Ned Van Zandt) que insiste que Cristine deve ser protegida, pois ele acompanhou o resgate de Cristine e sabe o perigo real que a fuga de Elizabeth representa. No entanto, aos poucos vamos acompanhando os passos de Elizabeth durante sua fuga associados a uma investigação paralela do policial Jamie sobre o passado de Elizabeth e Cristine que revelam um envolvimento muito maior de Gerry com as duas supostas vítimas.
No entanto, existem pequenos detalhes do enredo ou a falta deles que deixam a trama aparentemente clichê de serial killer perseguindo última vítima sobrevivente um pouco diferente do esperado. Alguns vão dizer que são muitas histórias superficiais paralelas que tiram a importância da trama principal, outros vão dizer que são apenas pistas falsas para desviar o olhar do espectador. Eu acredito que o roteirista/ diretor tentou traçar uma trama com muito mais camadas do que simplesmente assassino/ vítima e mãe/ filha. A história é recheada de personagens abandonados e desprezados que sofrem as consequências dos atos ou indiferenças dos outros, personagens esse que seguem suas histórias amputados emocionalmente criando verdadeiros abismos de personalidade que precisam ser tapados por outras emoções ou relações.
Talvez o elenco não tenha conseguido corresponder as expectativas do diretor que esperava muito mais de seus atores. No entanto, a produção cuidadosa do filme, associado a uma boa direção de arte, fotografia, montagem e trilha sonora conseguem segurar esse clima de ambiguidade até o final. Lógico, que sabemos desde o início que a personagem protagonista é uma sociopata instável capaz de atos cruéis de violência, mas isso não impede que a trama se desenvolva para frente, pois nem tudo em um filme de suspense precisa ser baseado na revelação de uma mistério bombástico ao final do filme. Estou muito mais interessado nas potencialidades de cada cena e interação dentro do filme, instrumentos esses que são capazes de deslocar o espectador dentro de uma atmosfera fílmica muito mais densa e cheia de camadas do que aquele velhos filmes de terror clichê.
Crítica por: Fabio Yamada.
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