"GHOSTBUSTERS: MAIS ALÉM" - 2021
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Um filme que deve agradar muito os mais saudosistas da franquia, mas que serve apenas como uma espécie de remake da história do primeiro filme, com personagens mais jovens e equipamentos envelhecidos, sendo que o único elemento que vai “mais além” é o territorial, trocando a cosmopolita Nova Iorque por uma cidade muito, muito interiorana.
Independente do valor cultural e criativo ou do verdadeiro propósito da realização de uma sequência de um filme é interessante observar a conexão entre o roteiro do filme e a narrativa por trás das câmeras dessa produção. Dessa vez, o filme que dá sequência direta a narrativa dos primeiros filmes de mais de 20 anos atrás ignorando completamente a infame produção com elenco feminino, está nas mãos do aclamado diretor independente Jason Reitman (Juno, Amor sem escalas, Jovens Adultos e Tully) que ironicamente é filho do diretor Ivan Reitman responsável pela criação e direção dos dois primeiros filmes da franquia. No roteiro do filme também existe uma passagem de bastão, do avô cientista para a neta nerd.
O filme começa com uma bela homenagem para com o falecido ator Harold Ramis que deu vida ao personagem Dr. Egon Spengler, membro fundador do quarteto original dos Caça-fantasmas. Ele dirige sua caminhonete pelo deserto fugindo de uma entidade maligna até chegar a sua sinistra fazenda, onde após tentar sem sucesso capturar o maligno fantasma, acaba desfalecendo em sua poltrona.
Entra em campo, a malfadada família composta por Callie (Carrie Coon sempre eficiente) e seus filhos Trevor (Finn Wolfhard espichado e apagado) e Phoebe (McKenna Grace iluminada) que acabam herdando a fazenda do cientista morto. Os três viajam até a cidade muito, muito distante e acabam se alojando na fazenda após serem despejados de sua casa.
Na fazenda, cada um dos membros da família acaba entrando em contato de alguma forma com o universo fantasmagórico de Egon. Callie relembra sua infância infeliz de abandono, Trevor reencontra o Ecto-1 e o coloca a funcionar, enquanto Phoebe desvenda as teorias de uma iminente invasão fantasmagórica global.
Enquanto Trevor sem envolve emocionalmente com Lucky (Celeste O’Connor) e vai trabalhar em uma lanchonete, Phoebe faz amizade com o hilário Podcast (Logan Kim) e tenta desvendar os mistérios dos abalos sísmicos da cidade relacionados a uma sinistra mina local abandonada.
Outro personagem que também está um pouco preocupado com os eventos geológicos da cidade é o professor/ sismólogo/ curioso e fã dos Caça-fantasmas Gary (Paul Rudd) que conhece a insólita família através de Phoebe que é sua aluna. No entanto, o propósito principal do homem mais sexy do mundo é se tornar o interesse amoroso de Callie, a mulher mais fria do mundo, cuja a personagem tenta se contrapor a Dana de Sigourney Weaver do filme original.
Impossível não se empolgar com as perseguições desastradas do Ecto-1 e seus tripulantes contra fantasmas desajeitados ou se emocionar com nostálgicas participações especiais do elenco original. No entanto, o filme não apresenta nada de original, não passando apenas de uma colcha de retalhos com fragmentos de homenagem mesclados com referências saudosistas que apelam pelo lado afetivo daquele espectador que assistiu aos filmes em sua infância.
Não existe nenhum tipo de discussão relevante com a realidade de agora ou com os quase quarenta anos que se passaram, além das indisfarçáveis rugas dos atores originais. Se na década de 80, os fantasmas poderiam ter aquele aspecto bonachão e divertido de geléia verde, os fantasmas que habitam a nossa realidade são muito mais tenebrosos e camuflados. Um filme claramente realizado para gerar lucros para os estúdios ao tentar reavivar uma franquia quase que totalmente esquecida e que perde desastrosamente a chance de ir “mais além” e criar uma metáfora com o universo fantasmagórico no qual tentamos obstinadamente sobreviver.
Crítica por: Fabio Yamada.
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