"FREE GUY" - 2021
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Um dos blockbusters com premissa e roteiro mais interessantes dos últimos anos que constrói uma bela metáfora entre a insignificante trajetória de um personagem não jogável dentro de um game com a monótona e apática realidade da vida de um homem comum.
O filme de Shawn Levy consegue entreter e divertir, ao mesmo tempo que induz o expectador a um pouco mais profundo além da superfície na medida certa. Muitos filmes já se utilizaram desse universo dos games para entreter o público, desde o clássico “Tron" e sua infame sequência, até filmes como “O Jogador N 1” ou “Scott Pilgrim” que se utiliza apenas da linguagem dos games.
Na história acompanhamos a rotina de Guy (Ryan Reynolds) um bancário que tem a mesma rotina diariamente. Ele acorda, veste sua camisa azul, alimenta seu peixe dourado, toma seu café na cafeteria e trabalha em um banco que é assaltado todo dia por diferentes ladrões. Seu melhor amigo é Buddy (Lil Rel Howery) um segurança do banco que nunca reage ao assalto saindo sempre ileso. Guy tem um estranho desejo de encontrar sua alma gêmea, até que um dia, ele esbarra em uma estranha visitante de óculos escuros que cantarola uma música. Isso é o suficiente para Guy quebrar todas as regras e tentar se aproximar dos seres que usam óculos escuros.
Essa súbita miragem é suficiente para desencadear em Guy um desejo irrefreável de quebrar a rotina, que pode ser ilustrado numa escolha de roupa diferente, um inusitado pedido na cafeteria e até um surpreendente contra-ataque contra os assaltantes de bancos, que termina com um meliante finalizado e Guy usando o famigerado óculos escuros. Uma nova dimensão de vida é aberta para Guy com a visão pelos óculos, o universo dos games.
Essa realmente é uma bela premissa para um filme, no entanto não preenche toda a duração de um longa-metragem, diante disso cria-se uma trama paralela com o mundo real dos criadores de games e uma grande empresa de jogos virtuais. Uma novata dupla de criadores de games formada por Keys (Joe Keery) e Millie (Jodie Comer) cria um jogo no qual a inteligência artificial se nutre das informações e interações dos jogadores, criando uma entidade autônoma. Eles tentam vender o revolucionário jogo para Antwan (Taika Waititi), o dono de uma gigantesca empresa de games, que acaba por enganar os inocentes designers de games.
Enquanto Keys acaba cedendo e indo trabalhar na empresa de Antwan, Millie insiste em conseguir provas de que o vilão do filme utilizou elementos de seu game na construção de Free City, exatamente o game onde Guy faz figuração como um personagem não jogável. Não por acaso, Millie é a jogadora que controla o avatar de Molotovgirl, o personagem jogável de óculos escuros por quem Guy se apaixonou.
Após várias piadas e reviravoltas, além de participações hilárias de Chris Evans e Channing Tatum, Guy e Millie se juntam para salvar o universo de Free City de uma infame sequência, que extinguiria toda a cidade e os personagens que ali vivem.
Como vocês podem ver, tudo começou tão cheio de vida e com uma roupagem original, para descambar para algo que já vimos várias vezes em outros filmes. Afinal, como recentemente me deparei com o nome de uma palestra “Audience Matters”, o produto final deve ser de saborosa degustação para a maior parte do público, devendo ser oferecido, na medida certa, aquilo que o expectador médio deseja, algo inteligível e palatável, de preferência de absorção rápida e excreção inodora.
Assim temos um produto que oferece um belo e divertido entretenimento com várias referências a outras obras do gênero, que se utiliza do carisma de seus astros principais para construir personagens de alto teor empático, cujo resultado final consegue navegar em uma profundidade um pouco maior que outros blockbusters do gênero que costumam apenas boiar na superfície.
Crítica por: Fabio Yamada.
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