"DJINN" - 2021
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É tão bom como somos surpreendidos por um filme do qual nunca se quer tivemos conhecimento de sua existência. Você passa várias vezes pelo ícone do filme em canal de streaming sempre torcendo o nariz à procura de algo melhor ranqueado ou com algum tipo de referência prévia, postergando para última escolha. Aí você percebe que já correu aquela lista de centenas de filmes de cima a baixo mais de dez vezes e decide dar uma chance de assistir ao filme lá pelas duas horas da manhã, crente que permanecerá com os olhos abertos não mais do que 15 minutos. Aí vem uma dupla de jovens diretores desconhecidos (David Charbonier e Justin Powell) que lhe passam a perna apresentando algo novo e clássico ao mesmo tempo, que não te deixa desviar os olhos da TV. Resumindo, fui dormir as quatro horas da manhã feliz da vida com o que assisti na tela, com direito a dois plot twists no final que te deixam inicialmente constrangido e depois desconcertado.
Na história ambientada em 1989, num mundo um pouco mais analógico que o nosso Dylan (Ezra Dewey excelente) e seu pai Michael (Rob Brownstein) se mudam para um novo apartamento, após a morte da mãe. Dylan é mudo e sofre de asma e tem o grande desejo de conseguir se comunicar através da voz. Seu pai é um radialista que trabalha em um programa noturno e dedica músicas para seu filho.
Dylan encontra escondido e embrulhado em seu armário, um livro do antigo morador do local, que aparentemente falecera de morte natural. O livro possui ensinamentos e orientações para realização de rituais que prometem realizar os desejos do invocador, mas cada ritual tem suas regras e os desejos um preço a ser pago.
O ritual escolhido por Dylan, que adora a história de Pinóquio e a fada que promete transforma-lo em um garoto de verdade, invoca um tipo de entidade através da reunião de elementos simples como um espelho antigo, velas e algumas gotas de sangue. Os trabalhos devem ser iniciados as onze horas da noite em ponto. Após invocado o espírito, o invocador deve sobreviver por durante uma hora inteira aos ataques mortais da entidade e ao final dessa hora, caso o requerente sobreviva, este terá seu desejo realizado. No entanto, é claro que o nosso querido Dylan não leu as regras do ritual até o final, assim como quase ninguém lê os manuais de instrução de aparelhos eletrônicos até o final.
Após invocar o demônio, Dylan acredita que terá seu desejo atendido simultaneamente o que o deixa muito decepcionado e descrente do próprio ritual. Somente, a partir do momento no qual o garoto percebe não estar sozinho em casa, de que ele não consegue sair de nenhuma forma de seu apartamento e todas as comunicações externas estão cortadas é que Dylan percebe que ainda tem uma hora inteira de terror a ser percorrida, com direito a materialização de assassinos em fuga, do antigo e sinistro morador local e claro da mãe suicida.
O filme ganha o expectador desde seus simples cuidados com direção de arte, fotografia e escolhas de planos, tudo parece muito bem cuidado e pensado para potencializar o terror que virá a seguir. Os pequenos cantos escuros da casa, a demora em revelar a verdadeira face do demônio, pequenos detalhes da asma do garoto, a mudez que auxilia na fuga, o grito que não precisa ser contido ou a dor que não se exclama.
A tensão crescente do filme que em nenhum momento se rende a sustos fáceis ou violência gratuita, mas que consegue aterrorizar de forma inteligente, muito graças a belas construção do personagem Dylan e o trabalho físico e talento de Ezra. Os minutos não passam, sofremos junto com o protagonista que além de lutar pela própria vida, ainda ambiciona ter seu desejo atendido.
Após o final da uma hora de terror, descobrimos o verdadeiro motivo pelo qual Dylan tanta deseja ter uma voz afim de evitar uma tragédia, ficamos desolados com a descoberta e pensamos que ele tenha conseguido mesmo que parcialmente ter seus desejos atendidos. No entanto, os diretores nos reservam uma outra muito mais macabra ao amanhecer do dia seguinte, que quebra por completo as nossas pernas.
Uma bela surpresa num filme independente de terror de baixo orçamento que consegue fazer inveja a muitas grandes produções que prometem assustar o expectador mas que conseguem produzir apenas risos de constrangimento do público.
Crítica por: Fabio Yamada.
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