“CLASH" - 2016
🔑🔑🔑🔑🔑
Um filme fantástico e muito atual que vem do Egito, dirigido por Mohamed Diab. Uma obra que tenta discutir as consequências e a irracionalidade decorrentes do extremismo político a partir de suas raízes colocando membros de diferentes extratos sociais enclausurados dentro de um mesmo ambiente.
Estamos no Cairo, após a primavera árabe (queda de uma longa ditadura) e logo após a queda de um presidente eleito democraticamente deposto pelo exército (alguma similaridade). Existem os que defendem os fundamentalistas e os que são contra. Há alguns anos, acharia difícil conceber a idéia de que existe uma grande parcela da população que defende a ditadura ou os fundamentalistas. Era muito mais fácil taxa-los de bárbaros ou muçulmanos burros que não dão valor a vida e a liberdade (Quem diria!?).
Durante um grande protesto na cidade, com manifestantes de ambos os lados, um camburão da polícia realiza a detenção das pessoas. Inicialmente, são presos os jornalistas (acusados por alguns de espiões), depois os anti-fundamentalistas (terroristas?) e depois os membros da Irmandade (bolsonaristas), por fim, os transeuntes que não estão de lado nenhum.
Todas essas pessoas, crianças e adultos, homens e mulheres, enclausuradas em um espaço pequeno com ânimos acirrados. A manifestação reprimida com cada vez mais violência pelos policiais pode ser vistas através das frestas das janelas, mas principalmente sentida através dos gritos e barulhos que ecoam para dentro do camburão.
Os ecos das manifestações ressoam em discussões e desavenças dentro do grupo. O trabalho de câmera com planos sequências dentro do mesmo ambiente retratando diferentes personagens é admirável. Criando um ambiente de tensão constante como se uma bomba estivesse prestes a explodir. Os motivos mais tolos como uso ou não do hijab, parar ou não para fazer necessidades, o calor infernal e a necessidade de beber água são estopim para cada nova divergência.
A desconfianças e o medo constante da reação do outro demonstra nossa incapacidade de entender o outro como ser humano. Por vezes, mesmo diante da morte iminente, não somos capazes de unir nossos esforços com finalidade de um bem comum. Isso demonstra que a nossa dita racionalidade muitas vezes nos leva por caminhos intransigentes que invariavelmente terminam na nossa própria destruição.
Crítica por: Fabio Yamada.
Comentários
Postar um comentário