"OXIGÊNIO" - 2021
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Um filme de suspense e mistério que se utiliza de uma premissa já vista em outras produções do gênero, o protagonista está enclausurado em um ambiente fechado, apertado e claustrofóbico e tem poucos minutos para se libertar e sobreviver antes de ficar sem oxigênio.
No entanto, o filme de Alexandre Aja trás algumas diferenças interessantes em relação aos seus pares, primeiro o protagonista é uma mulher, Elizabeth Hansen (Mélanie Laurent, excelente), a principal interação da personagem não é com um humano, mas sim com uma, por vezes estúpida, inteligência artificial MILO (Mathieu Amalric, fantástico) e a nossa vítima encontra-se enclausurada em uma capsula criogênica altamente tecnológica que permite a sobrevivência do passageiro por muito tempo quando em pleno funcionamento.
Encontramos a nossa bela enclausurada assim que ela é despertada pelo sistema de alarme da câmara, aos poucos vamos descobrindo quem é ela, mesmo por que nem mesmo ela se lembra quem é, sendo necessária uma análise de seu DNA para buscar uma compatibilidade. MILO irritantemente informa que o oxigênio dentro da câmara está em 33% e diminuindo, que nossa protagonista tem pouco tempo para reverter a situação e que ele só está autorizado a abrir o compartimento quando ela fornecer a senha da administração, sendo que ela não se lembra nem do próprio nome, muito menos de uma senha.
Ela através do banco de dados da inteligência artificial vai descobrindo aos poucos que é Elizabeth Hansen e começa a vislumbrar alguns vestígios de memória que indicam que ela já foi casada. Ela tenta ligar para a polícia, que incredulamente acredita na vítima e vai até a empresa que produziu a cápsula em busca de respostas.
Somos apresentados a alguns novos dados durante a conversa da protagonista com a polícia e nas descobertas dela pela internet que sugerem várias hipóteses para o espectador, entre elas a de que a cápsula está inacessível muito distante do local de origem, que a nossa protagonista pode ser um clone, que a nosso planeta foi destruído, de que ela nunca foi casada ou de que seu marido tenha falecido.
As várias pistas falsas decorrem dos lapsos de memória da protagonista e das informações desencontradas que MILO fornece. Aos poucos vamos descobrindo, que a única maneira dela sobreviver é desviando a energia dos sistemas supérfluos da cápsula para o que seja essencial para sobrevivência. Uma metáfora é construída paralelamente entre o que realmente é necessário para sobrevivermos e quais são as características que nos transformam em seres humanos.
Apesar do roteiro tentar surpreender o público associando a maioria das teorias descritas acima, transformando a trajetória de Elizabeth em algo muito mais complexo. Isso se contrapõe em relação ao o que ocorre dentro da capsula. Se externamente tudo acontece em excesso, com múltiplos desenrolamentos, internamente ela tem que se despojar de tudo, esquecer todas as suas lembranças, informações e sentimentos para se concentrar no que é essencial para sua sobrevivência.
Existem várias camadas de leitura para esse drama de sobrevivência, seja em relação aos componentes tecnológicos incongruentes da cápsula, pelo comportamento irracional da inteligência artificial ou pela construção da personagem através de fragmentos de memória e fotos das redes sociais. Afinal, o que nós somos? Nós nos restringimos a uma série de dados amontoados aleatoriamente predispondo a comportamentos repetitivos e facilmente dedutíveis? Se assim o é, o que nos diferencia da inteligência artificial?
Se somos alimentados na escola com conhecimentos adquiridos por experiência dos outros. Se aprendemos a reproduzir sentimento por espelhamento através do que vemos na TV, lemos em livros ou escutamos em músicas. Se somos obrigados a reproduzir ações e comportamentos segundo padrões da época ou local em que vivemos. Afinal por que ainda vivemos na ilusão de somos seres únicos no mundo? Por que fazemos tanta questão de sobreviver? A trajetória de nossa protagonista agonizando sem oxigênio dentro de sua solitária capsula pode ser apenas uma metáfora para o mundo no qual vivemos hoje. Uma realidade na qual vamos percebendo que a vida tem cada vez menos valor, mesmo aos olhos de quem sobrevive as custas de oxigênio.
Crítica por: Fabio Yamada.
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