Crítica: Little Birds

"LITTLE BIRDS" - 2020

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Um seriado magnífico baseado nos contos eróticos de Anaïs Nin (1903-1977), um escritora francesa famosa pela escrita erótica feminina em livros como “Delta de Vênus”. A série conta com seis episódios de 45 minutos e é ambientada na cidade de Tânger, num Marrocos pré- independência francesa no início da década de cinquenta.

Na história, temos duas protagonistas femininas fortes que percorrem caminhos inversos para, aparentemente chegarem ao mesmo ponto, garantir o empoderamento feminino frente a arrogância e controle dos homens. Em uma das pontas, temos Lucy (Juno Temple) como uma jovem americana impulsiva que realiza tratamento para euforia, ela viaja para Tânger afim de se casar com Hugo (Hugh Skinner), um jovem britânico de família nobre e falida, que não tem muito interesse por mulheres. Na outra ponta, temos Cherifa (Yumna Marwan, belíssima), como uma prostituta marroquina com pitada de dominatrix que humilha, sufoca e domina seus clientes de origem francesa. 

Na trajetória dessas personagens surgem vários outros personagens magníficos como um príncipe egípcio que se recusa a lutar pela causa árabe, Adam (Raphael Acloque), por quem Hugo é apaixonado; Lili von X (Nina Sosanya), uma extravagante e polêmica artista que defende a sexualidade feminina, a Condessa (Rossy de Palma), um agiota que agita a noite marroquina com festas e orgias em sua mansão, Leo (Kamel Labroudi), um pobre marroquino que é o interesse amoroso de Cherifa que cai nas garras da Condessa, Bill (Matt Lauria), um belo barman que seduz seus clientes afim de descobrir seus segredos e nosso principal antagonista Pierre (Jean-Marc Barr), como o Secretário do governo francês no país que se envolve com nossas duas protagonistas.

Esse eclético seriado pintado com cores fortes e imagens surrealista pode escandalizar os espectadores mais puritanos devido sua abordagem com uma sexualidade mais livre, afinal estamos falando de um roteiro baseado em treze contos eróticos. No entanto, a conquista da liberdade sexual feminina é apenas uma metáfora para a luta de independência marroquina (ou vice e versa).

Através de uma fotografia magnífica e cenários deslumbrantes eles recriam a atmosfera de uma cidade mágica, um porto seguro para os desgarrados da sociedade. Uma sociedade onde poucos tem direito a tudo e muitos tem direito a nada. Simbolizando momentos únicos da nossa história, onde grandes impérios estão a beira da decadência. 

Nesta história, as mulheres não se utilizam do sexo como uma arma (um grande fetiche masculino), mas também não são oprimidas por ele. Aqui o sexo, assim como o amor, é tratado como um processo de descoberta libertário. Onde inicialmente, precisamos reconhecer o que é, para depois experimentá-lo, para somente mais tarde deseja-lo e vivencia-lo em sua plenitude. Assim também é a liberdade, primeiro precisamos reconhecer que estamos aprisionados, para depois experimentar um vislumbre dela e consequentemente desejar conquista-la a qualquer custo. Ou podemos viver na ilusão de somos livres como pequenos pássaros em belas gaiolas douradas.

Crítica por: Fabio Yamada. 

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